São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2008

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Editoriais

Estrutura intacta

"ISSO NÃO acaba, não tem fim. Moramos no Brasil, se esqueceu?" Tem razão de ser o ceticismo de uma camelô, ao ser indagada se a detenção de colegas seus e de funcionários da Subprefeitura da Mooca, que extorquiam para não fiscalizar, acabaria com o esquema de propina na região. Passada uma década do escândalo da máfia de fiscais que marcou a gestão de Celso Pitta (1997-2000), a escala pode não ser a mesma, mas ainda grassa em São Paulo a cobrança de propina por autoridades.
Na gestão de Gilberto Kassab (DEM), de pouco mais de dois anos, já houve registro de suspeitas de cobrança de propina para permitir o funcionamento de bingos, ignorar publicidade ilegal e liberar a operação de casas comerciais. Casos semelhantes ocorreram sob Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB).
A estrutura que permitiu a operação de um propinoduto de R$ 400 milhões, no fim dos anos 90, não foi destruída. Pouco mudou, nesse aspecto, além do nome das antigas administrações regionais, agora subprefeituras.
O esquema de preenchimento de cargos por indicação e as barganhas com os edis permanecem. Não à toa, os acusados de comandar o esquema desbaratado na Mooca eram dois funcionários não concursados, um deles ex-candidato à Câmara Municipal pelo partido de Kassab.
Tentativas de mudar esse quadro ficaram no papel. Quando prefeito, Serra encomendou à Transparência Brasil um plano anticorrupção, que previa a contratação de uma auditoria externa para fiscalizar as subprefeituras e a instituição de um disque-denúncia específico para isso.
A chave, obviamente, está em permitir maior controle público dos atos da administração. Além disso, é preciso quebrar a espinha dorsal do interesse político que se ramifica por atividades corriqueiras, mas importantes para colocar ordem no caos urbano da capital, como a fiscalização do uso e da ocupação do solo.


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