São Paulo, sábado, 16 de julho de 2011

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MARTA SUPLICY

A vida gira

Há mais de 30 anos, escrevi a primeira coluna para a Folha. Lembro quando o convite foi transmitido pelo então editor responsável pelo jornal, o querido Cláudio Abramo, e a reação dos amigos.
Lembro da cor do mar de Picinguaba (no litoral norte de São Paulo), e eu feliz, contando para os amigos intelectuais, e eles dizendo que eu era doida de aceitar escrever num jornal e que iria me desmoralizar e banalizar tantos anos de estudo. Alguns meses depois, FHC, Severo Gomes e outros tantos assinavam coluna no jornal.
Foi pioneira e visionária a decisão da Folha de abrir essa oportunidade para outras pessoas além de jornalistas. Escrevia sobre costumes, a luta das mulheres e os direitos dos gays, o cotidiano. Também sobre viagens, cinema; tudo com pitadas de psicanálise.
O mundo mudou bastante nesses anos e, apesar de tantas dificuldades, acho que para melhor. Hoje vivemos numa democracia, elegemos um operário e uma mulher para presidentes da República e três mulheres comandam o Planalto. Impensável nos anos 80! Assim como Alckmin, Kassab e eu juntos, falando maravilhas da Parada Gay!
As pessoas casam e se separam e as famílias e a sociedade não as marginalizam como antes; as mulheres aumentaram sua representação no mercado de trabalho, apesar de os salários continuarem com gigantesca diferença.
Da virgindade e da "prova de amor" passamos para o "ficar", e daí para Kate Middleton viver junto antes de casar com o namorado, para ver se combina.
Avançamos na destruição do planeta. Mas também existe a consciência do problema ecológico e uma reavaliação das usinas nucleares.
O fax -parece que vivi em outro planeta-, depois o celular, o computador e a internet, mudaram a comunicação, as empresas, as relações de amizade e afetivas.
A internet, que tantos diziam que iria acabar com a intimidade, está se mostrando um grande agente transformador e criador de laços e ações imprevisíveis. Pessoas namoram, casam e guerras são desencadeadas por essa interação que capta, mobiliza e globaliza sentimentos. Novas preocupações aumentam, como a perversão pedófila facilitada pelo novo instrumento.
Com as transformações desses 30 anos, talvez as pessoas sofram menos, ou vivam mais felizes. Os jovens mudaram desde o movimento hippie dos anos 60, para o engajamento político dos anos 70 e para a atual busca de qualidade de vida. Nesses anos, eu entrei para a política, fui prefeita da minha cidade, ministra do governo Lula e, agora, recentemente eleita a primeira senadora do meu Estado. Valeu a pena viver e ser brasileira no final do século 20.
Vale a pena viver e ser brasileira neste começo do 21.

MARTA SUPLICY, senadora pelo PT-SP, passa a escrever neste espaço aos sábados.


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