São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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OUTRA LÓGICA

O progressivo fechamento do crédito externo vem forçando um rearranjo da política econômica brasileira. Esse reordenamento tem emergido a reboque dos fatos adversos, e está longe de constituir um todo coerente. Mas é inegável que cresce o recurso a medidas que até há pouco, por sua "heterodoxia", eram malvistas pelo governo.
Um exemplo disso é o reforço da intervenção no mercado de câmbio -que se afasta claramente do ideal da "livre flutuação". Outro é a expansão do crédito promovida pelos bancos públicos. Dada a retração do crédito concedido pelos bancos privados, essa "heterodoxa" ação anticíclica dos bancos públicos tem limitado o aperto de crédito.
Dentro desse rearranjo "ad hoc" da política econômica, cabe discutir o papel dos juros. Se o governo ainda se apegasse às noções que defendia até há pouco, não haveria o que discutir: como a inflação caminha para superar a meta, caberia esperar que os juros fossem aumentados.
Há quem defenda que o BC mantenha essa posição. Mas as novas condições da economia recomendam mudar também a política de juros.
Muito dificilmente elevar os juros, hoje, atrairia dólares ao país. E certamente agravaria a restrição de crédito que inibe a atividade econômica. A retração do crédito externo, a incerteza e o aumento dos compulsórios já estão contendo o crédito. Os prazos de financiamento ao consumidor estão sendo fortemente encurtados.
Aumentar os juros, agora, significaria optar por um ajuste das contas externas calcado na recessão. Seria uma estratégia, além de socialmente dolorosa, prejudicial para as contas públicas, que seriam pressionadas pelos juros e pela perda de arrecadação. E o consequente aumento da relação dívida/PIB reforçaria as dúvidas quanto à solvência do setor público.
No bojo do acordo com o FMI, as metas de inflação se tornaram menos ambiciosas, o que ampliou o raio de manobra do governo. As taxas de juros internacionais estão baixas e tendem a cair mais. Parece saudável, diante disso, compensar ao menos parcialmente os vetores recessivos que já estão presentes, por meio de uma lenta mas progressiva redução dos juros.


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