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OUTRA LÓGICA
O progressivo fechamento
do crédito externo vem forçando um rearranjo da política econômica brasileira. Esse reordenamento
tem emergido a reboque dos fatos
adversos, e está longe de constituir
um todo coerente. Mas é inegável
que cresce o recurso a medidas que
até há pouco, por sua "heterodoxia",
eram malvistas pelo governo.
Um exemplo disso é o reforço da
intervenção no mercado de câmbio
-que se afasta claramente do ideal
da "livre flutuação". Outro é a expansão do crédito promovida pelos bancos públicos. Dada a retração do crédito concedido pelos bancos privados, essa "heterodoxa" ação anticíclica dos bancos públicos tem limitado o aperto de crédito.
Dentro desse rearranjo "ad hoc" da
política econômica, cabe discutir o
papel dos juros. Se o governo ainda
se apegasse às noções que defendia
até há pouco, não haveria o que discutir: como a inflação caminha para
superar a meta, caberia esperar que
os juros fossem aumentados.
Há quem defenda que o BC mantenha essa posição. Mas as novas condições da economia recomendam
mudar também a política de juros.
Muito dificilmente elevar os juros,
hoje, atrairia dólares ao país. E certamente agravaria a restrição de crédito
que inibe a atividade econômica. A
retração do crédito externo, a incerteza e o aumento dos compulsórios já
estão contendo o crédito. Os prazos
de financiamento ao consumidor estão sendo fortemente encurtados.
Aumentar os juros, agora, significaria optar por um ajuste das contas
externas calcado na recessão. Seria
uma estratégia, além de socialmente
dolorosa, prejudicial para as contas
públicas, que seriam pressionadas
pelos juros e pela perda de arrecadação. E o consequente aumento da relação dívida/PIB reforçaria as dúvidas
quanto à solvência do setor público.
No bojo do acordo com o FMI, as
metas de inflação se tornaram menos ambiciosas, o que ampliou o
raio de manobra do governo. As taxas de juros internacionais estão baixas e tendem a cair mais. Parece saudável, diante disso, compensar ao
menos parcialmente os vetores recessivos que já estão presentes, por
meio de uma lenta mas progressiva
redução dos juros.
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