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GOLPE IMPUNE
Quatro meses depois da tentativa, fracassada, de golpe de
Estado na Venezuela, ainda não se
dissiparam as energias políticas desestabilizadoras naquele país. O presidente Hugo Chávez e seus opositores não entenderam que apenas uma
saída negociada poderá preservar as
instituições venezuelanas.
Sob o desejo, até certo ponto compreensível, de não contribuir para o
aprofundamento da rivalidade política que marca a Venezuela, o Supremo Tribunal de Justiça recusou o indiciamento de quatro militares acusados de participação no golpe. Mas
o significado dessa decisão é perigoso. Na América Latina, de lamentável
tradição de atentados institucionais,
a notícia de que a tentativa de golpe
militar ficou impune pode incentivar
novas aventuras antidemocráticas.
Mas a decisão do Judiciário não evitou o acirramento das hostilidades
no país vizinho. Pelo contrário, acabou por ensejar nova onda de enfrentamentos entre partidários e oposicionistas do presidente.
Chávez, eleito e sustentado por
uma massa popular que derrotou os
centenários e deteriorados partidos
de elite, tem uma grande parcela de
responsabilidade pela situação por
que passa o país. Na condução de
seu projeto cesarista de "Revolução
Bolivariana", Chávez não tem respeitado a fronteira que separa o exercício da liderança política legítima das
iniciativas que solapam os controles
institucionais dos atos do Executivo.
O presidente, por exemplo, constituiu grupos de apoio que se valem de
expedientes paramilitares; e entrou
em rota de colisão com quase todos
os setores sociais organizados da Venezuela, da mídia aos sindicatos.
Depois da tentativa de golpe, Chávez emitiu sinais de que mudaria sua
conduta, abrindo interlocução social
mais ampla. Mas o fato é que, até
agora, não conseguiu transformar-se numa liderança agregadora, capaz
de costurar um pacto social mais estável para a sua Presidência. A Venezuela, pois, continua correndo sérios
riscos institucionais.
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