São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Ricos, mas órfãos

SÃO PAULO - A Folha ouviu, dias atrás, de um portentoso homem de negócios, a seguinte avaliação sobre um segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes:
"A esses dois não dou nem o benefício da dúvida".
Pode ser uma frase preconceituosa, cruel, impiedosa, mas é também um precioso instantâneo do momento em que vive boa parte dos homens de negócios e de mercado. Com a queda de José Serra nas pesquisas, ficaram pura e simplesmente órfãos.
Esse segmento tem aversão visceral a Lula e ao PT. Coisa de pele, não tem remédio. Ciro poderia até ser engolido. É afilhado político de um empresário (Tasso Jereissati), está agora cercado da turma que sempre conviveu perfeitamente bem com o "business" (Jorge Bornhausen, Antonio Carlos Magalhães e Paulo Pereira da Silva, entre outros).
Mesmo assim, não foi digerido até agora. Em parte porque, na sua curta passagem pela Fazenda, em 1994, criou vários atritos com o empresariado, em parte porque está adotando uma posição -verbal ao menos- extremamente agressiva em relação ao tal de mercado.
É relevante a orfandade desse segmento? Há quem ache que, pela porcentagem do PIB que maneja, pode até decidir a eleição, financiando a campanha do escolhido. O exemplo óbvio é o de Fernando Collor.
Suspeito, no entanto, que as coisas tenham mudado -e para melhor. Em 1989, a Rede Globo de Televisão fez a sua parte para criar um candidato de plástico, mas extremamente convincente e sedutor.
Posso queimar a língua, mas acho que a Globo não vai entrar mais nessa. Em parte porque não é necessário. Lula desbotou tanto que um anti-Lula já não é vital para os interesses estabelecidos.
O mercado pode até continuar especulando, usando o fantasma "Cirula", como antes usou o "Brizula".
Mas quem não vive só de especulação tende a continuar órfão.


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