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CLÓVIS ROSSI
Ricos, mas órfãos
SÃO PAULO - A Folha ouviu, dias atrás, de um portentoso homem de
negócios, a seguinte avaliação sobre
um segundo turno entre Luiz Inácio
Lula da Silva e Ciro Gomes:
"A esses dois não dou nem o benefício da dúvida".
Pode ser uma frase preconceituosa,
cruel, impiedosa, mas é também um
precioso instantâneo do momento
em que vive boa parte dos homens de
negócios e de mercado. Com a queda
de José Serra nas pesquisas, ficaram
pura e simplesmente órfãos.
Esse segmento tem aversão visceral
a Lula e ao PT. Coisa de pele, não
tem remédio. Ciro poderia até ser engolido. É afilhado político de um empresário (Tasso Jereissati), está agora
cercado da turma que sempre conviveu perfeitamente bem com o "business" (Jorge Bornhausen, Antonio
Carlos Magalhães e Paulo Pereira da
Silva, entre outros).
Mesmo assim, não foi digerido até
agora. Em parte porque, na sua curta
passagem pela Fazenda, em 1994,
criou vários atritos com o empresariado, em parte porque está adotando uma posição -verbal ao menos- extremamente agressiva em
relação ao tal de mercado.
É relevante a orfandade desse segmento? Há quem ache que, pela porcentagem do PIB que maneja, pode
até decidir a eleição, financiando a
campanha do escolhido. O exemplo
óbvio é o de Fernando Collor.
Suspeito, no entanto, que as coisas
tenham mudado -e para melhor.
Em 1989, a Rede Globo de Televisão
fez a sua parte para criar um candidato de plástico, mas extremamente
convincente e sedutor.
Posso queimar a língua, mas acho
que a Globo não vai entrar mais nessa. Em parte porque não é necessário. Lula desbotou tanto que um anti-Lula já não é vital para os interesses estabelecidos.
O mercado pode até continuar especulando, usando o fantasma "Cirula", como antes usou o "Brizula".
Mas quem não vive só de especulação tende a continuar órfão.
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