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FIM DE GREVE
É uma boa notícia a de que terminou a greve de alunos da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências
Humanas (FFLCH) da Universidade
de São Paulo. A paralisação, que durou 106 dias, foi uma das mais longas da história da USP. O movimento já havia chegado àquele ponto a
partir do qual sua continuidade apenas produziria prejuízos para o corpo discente, com chances mínimas
de auferir novas vantagens.
O fim da greve não significa que ela
tenha sido um fracasso. Em primeiro
lugar, a paralisação levou a reitoria a
fazer uma proposta de contratação
de professores presumivelmente melhor do que a que teria feito sem o
movimento. A direção da universidade agora fala em admitir 91 novos docentes em três anos. Essa cifra ainda
é bastante inferior aos 259 professores pretendidos pelos alunos, mas
ela ao menos parece realista.
Mais importante é verificar que a
greve teve o mérito de tornar pública
a discussão sobre o lugar das humanas na universidade. Embora seja
óbvio que uma boa universidade precisa ter bons cursos de filosofia, história, letras, as humanas vêm sendo
relegadas a segundo plano.
O notável sucesso das ciências físicas e biológicas ao longo do século
20 levou a uma exacerbação do discurso tecnicista. Acrescente-se a isso
o natural utilitarismo da sociedade
-é muito mais fácil justificar para o
público a concessão de verbas para a
pesquisa do câncer do que para um
estudo comparativo das línguas indo-européias, por exemplo-, e o resultado é um viés claramente pró-biológicas e pró-exatas na repartição
dos recursos universitários.
No fundo, a discussão é política. E
a greve, como instrumento político,
serviu para mostrar à opinião pública
o abandono das humanas. Espera-se, agora, que a situação comece a
ser revertida. Sem humanidades, a
universidade não seria "universitas"
(o todo, o universo). Não passaria de
um aglomerado de escolas técnicas.
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