São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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FIM DE GREVE

É uma boa notícia a de que terminou a greve de alunos da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo. A paralisação, que durou 106 dias, foi uma das mais longas da história da USP. O movimento já havia chegado àquele ponto a partir do qual sua continuidade apenas produziria prejuízos para o corpo discente, com chances mínimas de auferir novas vantagens.
O fim da greve não significa que ela tenha sido um fracasso. Em primeiro lugar, a paralisação levou a reitoria a fazer uma proposta de contratação de professores presumivelmente melhor do que a que teria feito sem o movimento. A direção da universidade agora fala em admitir 91 novos docentes em três anos. Essa cifra ainda é bastante inferior aos 259 professores pretendidos pelos alunos, mas ela ao menos parece realista.
Mais importante é verificar que a greve teve o mérito de tornar pública a discussão sobre o lugar das humanas na universidade. Embora seja óbvio que uma boa universidade precisa ter bons cursos de filosofia, história, letras, as humanas vêm sendo relegadas a segundo plano.
O notável sucesso das ciências físicas e biológicas ao longo do século 20 levou a uma exacerbação do discurso tecnicista. Acrescente-se a isso o natural utilitarismo da sociedade -é muito mais fácil justificar para o público a concessão de verbas para a pesquisa do câncer do que para um estudo comparativo das línguas indo-européias, por exemplo-, e o resultado é um viés claramente pró-biológicas e pró-exatas na repartição dos recursos universitários.
No fundo, a discussão é política. E a greve, como instrumento político, serviu para mostrar à opinião pública o abandono das humanas. Espera-se, agora, que a situação comece a ser revertida. Sem humanidades, a universidade não seria "universitas" (o todo, o universo). Não passaria de um aglomerado de escolas técnicas.


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