|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCELO BERABA
A morte do Capeta
RIO DE JANEIRO - O assassinato do jornalista Tim Lopes continua a render surpresas dois meses e meio depois e é uma das principais causas de
desgaste das polícias do Rio e do governo de Benedita da Silva (PT).
No sábado, a Folha revelou que a
Corregedoria Geral da Secretaria de
Segurança investiga a informação de
que Elias Pereira da Silva, o Elias
Maluco, chefete do narcotráfico acusado pelo assassinato de Tim, está
tendo proteção de policiais e, para isso, já teria pago R$ 600 mil.
A notícia faz sentido, porque é algo
que todos já imaginavam. Por mais
despreparada e incompetente que
possa ser uma polícia, é impossível
que não consiga prender um bandido que não dispõe de contatos nem
de recursos fora do submundo. Ainda mais com a pressão ininterrupta
da mídia e de parte da sociedade.
Ainda mais em ano eleitoral.
A polícia não é ineficaz porque tem
poucos homens (são quase 50 mil policiais no Rio) ou porque não tem recursos (o governo Garotinho diz que
investiu mais de R$ 250 milhões em
três anos). Ela é ineficaz porque é
despreparada e porque parte dela está envolvida com o crime.
O domínio dos morros pelo narcotráfico e a sobrevivência dos chefetes
seriam impossíveis sem a participação direta ou indireta de parte da polícia, seja dando proteção, seja achacando, seja vendendo informações
ou recursos, seja participando diretamente do crime.
Dois dos assassinos de Tim apareceram mortos nos últimos dias. Um
tal de Boizinho (Maurício de Lima
Mathias, 29) foi morto pela polícia.
Queima de arquivo? Na madrugada
de terça, morreu o Capeta (André da
Cruz Barbosa). É difícil acreditar que
se tenha suicidado, como quer a polícia. Queima de arquivo?
E, assim, os assassinatos de Tim e
de centenas e centenas de anônimos
mortos pelo tráfico continuam impunes. A polícia diz que está prestes a
prender Elias Maluco. É mais provável que o encontrem morto.
Texto Anterior: São Paulo - Eliane Cantanhêde: Previsíveis e imprevisíveis Próximo Texto: José Sarney: Alan e Armínio Índice
|