São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002

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MARCELO BERABA

A morte do Capeta

RIO DE JANEIRO - O assassinato do jornalista Tim Lopes continua a render surpresas dois meses e meio depois e é uma das principais causas de desgaste das polícias do Rio e do governo de Benedita da Silva (PT).
No sábado, a Folha revelou que a Corregedoria Geral da Secretaria de Segurança investiga a informação de que Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, chefete do narcotráfico acusado pelo assassinato de Tim, está tendo proteção de policiais e, para isso, já teria pago R$ 600 mil.
A notícia faz sentido, porque é algo que todos já imaginavam. Por mais despreparada e incompetente que possa ser uma polícia, é impossível que não consiga prender um bandido que não dispõe de contatos nem de recursos fora do submundo. Ainda mais com a pressão ininterrupta da mídia e de parte da sociedade. Ainda mais em ano eleitoral.
A polícia não é ineficaz porque tem poucos homens (são quase 50 mil policiais no Rio) ou porque não tem recursos (o governo Garotinho diz que investiu mais de R$ 250 milhões em três anos). Ela é ineficaz porque é despreparada e porque parte dela está envolvida com o crime.
O domínio dos morros pelo narcotráfico e a sobrevivência dos chefetes seriam impossíveis sem a participação direta ou indireta de parte da polícia, seja dando proteção, seja achacando, seja vendendo informações ou recursos, seja participando diretamente do crime.
Dois dos assassinos de Tim apareceram mortos nos últimos dias. Um tal de Boizinho (Maurício de Lima Mathias, 29) foi morto pela polícia. Queima de arquivo? Na madrugada de terça, morreu o Capeta (André da Cruz Barbosa). É difícil acreditar que se tenha suicidado, como quer a polícia. Queima de arquivo?
E, assim, os assassinatos de Tim e de centenas e centenas de anônimos mortos pelo tráfico continuam impunes. A polícia diz que está prestes a prender Elias Maluco. É mais provável que o encontrem morto.


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