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JOSÉ SARNEY
Alan e Armínio
Nunca na história americana um
presidente do Federal Reserve, o
banco central de lá, teve tantos e extraordinários poderes quanto o Alan
Greenspan, homem capaz de, numa
simples declaração, derrubar e levantar mercados -além dos dotes mágicos de abortar o futuro.
O nosso Armínio Fraga, num espaço
menor, não é tão diferente. Também
aqui o BC nunca teve tanta visibilidade e prestígio. Quando chegou dos
EUA, eu tive logo uma simpatia por
ele, e esta veio do carinho com que desembarcou fazendo carícias no seu cachorro. Tornou-se ele voz conclusiva e
opinião final sobre a política monetária. Para isso, tem talento, qualidades e
força. Até na sucessão presidencial
transformou-se em tema de debate:
"Armínio fica ou sai?". Serra respondeu: "Fica". Lula: "Sai". Garotinho:
"Não tô nem aí". Ciro: "Talvez". Armínio foi quem primeiro viu a necessidade de envolver a oposição na crise
cambial. Chamou Mercadante para
falar. Deu ciúmes e então foi o José
Aníbal e o Ciro. Agora é a hora e a vez
do presidente Fernando Henrique.
Vai pedir divisão de responsabilidade
sobre o acordo do FMI e vai receber
todos com direito a foto e a flauta de
serpente. Na realidade, o FMI não foi
correto. Espalhou que o acordo era de
US$ 30 bilhões e de módicas prestações. A primeira, de US$ 3 bilhões, antes das eleições. Outros US$ 3 bilhões
para depois da eleição, a fim de conjurar o pânico de fim de mandato. E ainda o FMI fez uma coisa que não se faz.
Pediu que o Brasil utilize suas reservas
para segurar o dólar, o que aumenta a
nossa vulnerabilidade. O resto, US$ 24
bilhões, só em 2003. Abacaxi a ser colocado como faca no pescoço do presidente eleito.
Para resolver essa intrincada equação, só há um homem: Armínio Fraga.
Ninguém mais capacitado do que ele.
De saída, tem o que ninguém tem. É
brasileiro e americano. Tem dupla nacionalidade, o que lhe assegura ver as
coisas com abrangente sentimento de
isenção, porque raciocina pelos dois
lados. Depois, ninguém mais do que
ele conhece essas sutilezas do mercado, com experiência adquirida nos
longos anos da casa de investimentos
Soros. Sabe como podemos nos desviar das cascas de banana desse mundo de sobe-e-baixa. É unanimidade
nacional e não há nenhuma suspeita
sobre o seu comportamento, sangue
de uma das melhores famílias brasileiras, da inteligência dos Fragas, que
nos deram grandes cientistas e luminares da medicina.
Não percamos tempo. Todo poder a
Armínio Fraga, como diria o nosso
sempre lembrado Otto Lara Resende.
Ao contrário do que ocorre em outros países sul-americanos, cujo
exemplo maior é a Argentina, os políticos brasileiros, em momentos graves, sempre se unem no terreno comum do interesse nacional e jamais
colaboram com a política de terra arrasada, a mais arrasada das políticas.
Se fizermos assim, tenho absoluta
certeza de que nossas interrogativas
sobre o futuro serão desfeitas e teremos um fim de governo sem explosão,
que virá em janeiro, por culpa não do
Armínio, mas do povo brasileiro, que
terá escolhido um novo presidente
sem consultar o mercado!
Em janeiro de 95, o México explodiu. Salinas deixara o governo em novembro. Já, na Irlanda, o ex-presidente, de longe, apontou a causa: "Fueron
los errores de diciembre...".
Deus queira que conosco não seja
assim.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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