São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Saúde, biotecnologia e auto-suficiência
ISAIAS RAW
Depois de um esforço inicial do Ministério da Saúde, que investiu na construção de plantas de produção do Butantan, é o Butantan quem na prática financia o ministério, desenvolvendo e produzindo as vacinas, que são entregues para serem retestadas (para garantia dos usuários) e só então liberada para uso e pagas. Biotecnologia tornou-se uma palavra mágica, que esconde um desejo poucas vezes transformado em realidade. O Butantan está fazendo um importante esforço para produzir alguns biofármacos de interesse social, como o surfactante pulmonar, cujo uso evitará a morte de cerca de 150 mil bebês prematuros todos os anos. Como na produção da vacina contra a hepatite B, numa luta contra interesses privados, o Butantan desenvolveu importante competência na tecnologia de produção de hemoderivados, aguardando tão-somente os investimentos públicos para concretizar mais uma iniciativa prioritária e estratégica, criando empregos e economizando US$ 200 milhões por ano. Mesmo no Primeiro Mundo, estudos mostram que, entre as pesquisa de laboratório e a implantação da produção são exigidos em média de um a 11 anos. O desenvolvimento de bancada, realizado nas universidades, praticamente nunca chega à tecnologia em condições que interessem a uma empresa privada. A chamada (bio)tecnologia é, na maioria das vezes, pesquisa de bancada, que precisa de muito tempo e enormes recursos para atingir o mercado e produzir o impacto econômico desejado. Talvez a única exceção tenha sido a criação, por um professor da UFMG, da Biobraz, que produzia toda a insulina que o país demandava. É um produto da maior importância em saúde e da maior prioridade econômica e estratégica: cerca de 6% da população demanda insulina. É fácil falar em política industrial e desenvolvimento tecnológico. O governo não cria oportunidades. Seus programas são importantes abstrações, que só se concretizam quando existem iniciativas competentes para que ele, governo, apóie. Como outras atividades públicas, que estarão sob escrutínio a partir de janeiro, esta merece especial atenção. Não esperamos menos de quem venha a assumir as rédeas do governo em 2003. Isaias Raw, 75, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, é presidente da Fundação Butantan e da Developing Country Vaccine Manufature Network,que congrega os produtores de 60% de todas as vacinas infantis. Organizou o Centro de Biotecnologia do Instituto Butantan. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Francisco Neves: A força da comunidade Índice |
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