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São Paulo, sábado, 16 de agosto de 2003

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EFEITO ASPIRINA

Depois de ter oferecido à indústria automotiva um desconto na cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a área econômica do governo passou a ter que responder a uma questão espinhosa: por que não fazer o mesmo com os demais ramos da produção? De fato, embora a indústria de veículos seja uma das mais dinâmicas do país, ela não é o único setor expressivo da atividade produtiva, tampouco é o único a sofrer os efeitos da atual situação econômica.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) viu na decisão do governo uma oportunidade para reivindicar tratamento análogo para outras áreas. Depois de um encontro com o ministro Antonio Palocci para tratar do tema, o presidente da entidade, Horácio Piva, declarou que a Fazenda estaria disposta a apoiar "qualquer setor que possa gerar um pouco de consumo por uma ponta e emprego pela outra".
Ainda que caiba ao governo fazer o que está ao seu alcance para minimizar as dificuldades do quadro restritivo, essas concessões tributárias não parecem se enquadrar numa política organizada, com critérios transparentes e contrapartidas claras e convincentes. Além de produzir efeitos superficiais diante da gravidade do quadro -trata-se de uma "aspirina", como disse o ministro Furlan, do Desenvolvimento- esse tipo de apoio parece estar sendo decidido ao sabor das pressões e dos lobbies. Sendo assim, os mais fortes e mais influentes seriam os principais candidatos a receber as benesses governamentais.
Não será, certamente, com uma colcha de retalhos de benefícios fiscais transitórios que a indústria irá superar suas dificuldades. Os jornais de ontem trouxeram novos dados do IBGE que demonstram a gravidade da crise. Há um consenso no setor sobre a timidez com que as autoridades econômicas vêm adotando as medidas para a retomada da atividade. Parece faltar no governo de Luiz Inácio Lula da Silva maior determinação para apostar no crescimento. Até aqui, na área econômica, têm triunfado a cautela e o medo, enquanto desvanece a esperança.


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