São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

Petismo-lulismo, caricatura da direita

SÃO PAULO - Os achaques mais autoritários do governo de FHC costumavam durar pouco. Depois de uma certa grita da sociedade, as pessoas mais razoáveis do governo, a começar pelo próprio presidente, em geral davam conta do vexame e recolhiam às jaulas seus projetos de tiranetes. Coisas mefíticas como a horrenda repressão militar da greve dos petroleiros (1995), o excesso de medidas provisórias e o hábito de enterrar escândalos ficaram, é verdade.
O governo Lula não só dá apoio encarniçado a macaquices autoritárias como encarna, defende, propõe e quer institucionalizar várias delas, além de herdar com gosto a mania de decretar leis e o projeto tucano de lei da mordaça, que pretende aleijar os procuradores de Justiça.
O governo quer proibir servidores públicos de falar com jornalistas. Quer invadir à vontade o sigilo bancário e fiscal de empresas. Quer meter o dedo na produção audiovisual. Dá guarida ao projeto de um de seus braços sindicais de criar um comitê de salvação pública com poder de mandar à guilhotina jornalistas que não agradem à pelegada medíocre e a seus chefes no PT. Trata-se de facilidade herdada da organização sindical do país, corporativista quase fascista, mantida com gosto e usufruto pelo petismo-lulismo.
Não se trata de uma investida autoritária, de um ataque pontual a liberdades. É um padrão de comportamento do petismo-lulismo, sério candidato a praticante da realpolitik mais cínica que já se viu neste país de descaramentos.
O petismo-lulismo encarna as caricaturas que a pior direita faz da esquerda. Mente e diz o contrário do que pregava meses antes. Aparelha órgãos e cargos públicos com voracidade rara até neste país de PFLs e PMDBs. A propaganda vai além da marquetagem e maquiagem política normais. É estratégia de governo, que se esmera na fabricação de rótulos para frascos vazios, como o Fome Zero, Primeiro Emprego etc.
Lula não havia feito gesto nenhum pelo avanço institucional, democrático. Agora, quer minar as precárias liberdades do país. O que vem depois?


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