São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

A nova "carta" de Lula

BRASÍLIA - O PT prepara uma versão social da "Carta ao Povo Brasileiro", documento que Lula divulgou em 22 de junho de 2002, ainda candidato a presidente.
Há dois anos, o documento serviu para o PT e Lula assegurarem aos banqueiros que respeitariam as regras da ortodoxia tucana. Tinha seis páginas e 1.757 palavras, mas só uma frase relevante. Era a que falava sobre como seria a mudança de governo: "Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país".
Funcionou. Os banqueiros sossegaram. Lula ganhou a eleição.
Agora, quase dois anos de arrocho depois, a " intelligentsia" petista considera ter chegado o momento de uma "Carta dos Direitos Sociais". O texto está sendo negociado com o governo. Será anunciado até o final deste mês. A tempo de alavancar as campanhas a prefeito de petistas.
Com o país crescendo de 4% a 5% neste ano, o documento será a bandeira do PT para tentar resgatar um pedaço de sua imagem que ficou perdido em algum canto da estrada desde a eleição de Lula.
Deverá incluir e explicitar o que são os conceitos e compromissos petistas sobre saúde, educação e transporte coletivo. O projeto de renda mínima de Eduardo Suplicy estará lá.
Ancorado em muito marketing, o documento será uma espécie de idéia-força nas campanhas de petistas neste ano. Será usado também para martelar no imaginário do eleitor a necessidade de reeleger Lula mais adiante, em 2006.
Tudo somado, na vida real, é pastel de vento puro, legítimo. Vai funcionar então? Depende.
No caso da "Carta ao Povo Brasileiro", o prometido foi entregue. Os juros estratosféricos pagos por Palocci-Meirelles deram lucros fantásticos às instituições financeiras. No caso dos direitos sociais, não está claro exatamente qual será a entrega da mercadoria. Muita gente no PT acha que só o crescimento da economia basta. No curto prazo, vá lá. Depois, vira só uma aposta arriscada.


Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Petismo-lulismo, caricatura da direita
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Custe o que custar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.