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TENDÊNCIAS/DEBATES
Um tribunal para a corrupção
PAULO RENATO SOUZA
A proposta procura acabar
com a impunidade nos
crimes contra o patrimônio
público e nos atos de
improbidade administrativa
REPORTAGEM publicada nesta
Folha no último sábado, 11/8,
sob o título "Deputado propõe
ampliação de foro privilegiado para
autoridades" distorceu o espírito e o
conteúdo da proposta de emenda
constitucional nš 115 que apresentei à
Câmara dos Deputados para a criação
do Tribunal Superior da Probidade
Administrativa (TSPA). Ao contrário
do que sugere a reportagem, a proposta procura essencialmente acabar
com a impunidade nos crimes contra
o patrimônio público e nos atos de
improbidade administrativa.
A impunidade no Brasil desmoraliza todas as instituições republicanas
e coloca em risco a própria democracia. As razões pelas quais sou favorável à extinção do foro privilegiado para autoridades públicas são de ordem
filosófica e não se vinculam à questão
da impunidade nos crimes e delitos
por elas praticados. A pura extinção
do foro privilegiado não aumentará a
punição dos culpados. Infelizmente, a
impunidade não é privilégio de autoridades públicas. É a regra para quem
paga bons advogados, pois as brechas
no Código de Processo Penal a asseguram. Acaso não há assassinos confessos condenados que circulam livremente em nossa cidade?
Sendo realista e pragmático, não
creio viver para ver aprovada uma reforma em nosso código que o simplifique e garanta uma seqüência célere
entre apuração dos fatos, instrução
dos processos, julgamento e cumprimento das penas da lei por parte dos
culpados. A rapidez nessa seqüência,
pelo menos em relação aos crimes e
delitos praticados por autoridades, é
essencial para evitar a desmoralização das instituições e o conseqüente
risco autoritário.
Na segunda-feira, dia 13, esta mesma Folha publicou interessante entrevista com Stuart Gilman, especialista da ONU em combate à corrupção. Ele argumenta que a simples eliminação do foro privilegiado não aumentará a punição dos culpados.
Afirma ele: "Não é a severidade da pena, mas a velocidade com que as pessoas são pegas e punidas que acaba
com a noção de impunidade". Essa
constatação o leva a propor a criação
de uma "corte anticorrupção".
O TSPA não está concebido para lidar com determinadas pessoas, mas
com todas as vinculadas a certos crimes. Nesse sentido, ele passa ao largo
da questão da prerrogativa de foro.
O tribunal será competente para
julgar em primeira (e praticamente
única) instância tanto crimes contra
a administração pública quanto atos
de improbidade administrativa, que
hoje correm em esferas separadas do
Judiciário, prejudicando a aplicação
da Justiça para delitos similares praticados pela mesma pessoa.
Essa competência se aplica a atos e
crimes praticados por altas autoridades: ministros, parlamentares, governadores, desembargadores, prefeitos
de capitais (e grandes cidades) e, também, os eventuais co-autores que não
sejam detentores de cargos públicos.
Ele terá regras processuais próprias
para julgar com celeridade e de forma
terminativa.
A proposta vem tendo ampla repercussão e provocando um debate salutar, tal como o verificado na última
semana na sede do Ministério Público do Estado de São Paulo.
As críticas e sugestões que recebi
nessa ocasião se concentraram em
dois pontos: a exclusividade da Procuradoria-Geral da República para
atuar na promotoria no novo tribunal
e a possibilidade de serem criadas câmaras especiais nos atuais tribunais
regionais e superiores como uma alternativa ao novo órgão.
Sobre o primeiro ponto, considero
adequada uma ampliação dessa prerrogativa para todos os procuradores-gerais estaduais. Sobre o segundo,
lembrei que os tribunais superiores
atuais são apenas instâncias de recurso e já estão assoberbados de processos. Isso nos remete aos mesmos problemas hoje existentes com o processo penal já analisado.
Expressei no referido debate minha abertura para receber críticas e
sugestões para o aperfeiçoamento da
proposta. A única condição que imponho é que elas realmente contribuam para acabar com a impunidade
em relação às autoridades públicas.
Quando tivermos algumas delas condenadas e cumprindo penas, estou
seguro de que a corrupção -seja a de
pequena monta, seja a que envolve
grandes cifras- haverá de reduzir-se
dramaticamente em nosso país. Nossa democracia e nossa república serão então mais fortes.
PAULO RENATO SOUZA, 61, economista, é deputado federal (PSDB-SP). Foi ministro da Educação (governo FHC), reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e secretário de Educação do Estado de São Paulo
(governo Montoro).
dep.paulorenatosouza@camara.gov.br
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