São Paulo, domingo, 16 de agosto de 2009

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Editoriais

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Jogo incerto

Quadro da sucessão presidencial, que se dava como fixo, adquire novas variáveis, para além da disputa entre PT e PSDB

A NOTÍCIA de que a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva cogita abandonar o PT para lançar-se candidata à sucessão de Lula pelo Partido Verde vem solapar os prognósticos de monotonia, e a sensação de inevitabilidade, que cercavam a campanha de 2010.
Logo depois de lançada, a hipótese já deu sinais de alterar os planos de outra liderança: Ciro Gomes, preparando-se para uma aventura eleitoral em São Paulo, ressurge como possível candidato de seu partido, o PSB, à Presidência da República.
O quadro estático de uma disputa entre Dilma Rousseff, pelo PT, e José Serra ou Aécio Neves, pelo PSDB, começa desse modo a se mover, o que é positivo.
Há na sociedade brasileira, e nos próprios partidos que nela mal e mal se implantam, mais complexidade do que o roteiro inicialmente previsto para 2010.
Dilma e Serra, ainda que em campos opostos, assemelham-se tanto pelo passado -o da resistência ao regime militar- quanto pelo presente, marcado pelo pragmatismo desenvolvimentista e por um discurso mais próximo da racionalidade administrativa do que da empatia popular.
De resto, nem a candidatura tucana representa o ponto de vista autenticamente conservador que parte de seus eleitores gostaria de elevar à Presidência, nem a candidata de Lula reflete as tendências mais à esquerda de seu eleitorado.
Uma provável postulação de Marina Silva vem colocar a temática ambiental com mais candência no debate. Ao mesmo tempo, tende a expressar inconformidades latentes no petismo tradicional, tanto com relação aos rumos tomados pelo governo Lula como pelo fato de Dilma Rousseff ter sido imposta como candidata da agremiação, sem um mínimo de consulta às instâncias partidárias.
Não deixa de ter visíveis fragilidades, contudo, uma eventual candidatura do PV -partido com minúscula participação no horário eleitoral gratuito e cujas credenciais no mundo político real podem ser avaliadas pelo fato de que, entre suas principais lideranças, avulta o deputado Zequinha Sarney.
Os partidos brasileiros, como se sabe, filtram de modo extremamente turvo os movimentos da sociedade e as aspirações da população. Num tempo em que outras formas de organização e de debate ganham força na vida política, o jogo de 2010 ainda está, ao contrário do que parecia, por ser jogado.
Que novos candidatos, representativos de forças reais à esquerda e à direita, possam surgir. A democracia não se faz de nomeações nem de "candidaturas naturais", mas de debate e movimento; é o que tem faltado na sucessão presidencial.


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