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Editoriais
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Jogo incerto
Quadro da sucessão presidencial, que se dava como fixo, adquire novas variáveis, para além da disputa entre PT e PSDB
A NOTÍCIA de que a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva cogita abandonar o PT
para lançar-se candidata à sucessão de Lula pelo Partido Verde
vem solapar os prognósticos de
monotonia, e a sensação de inevitabilidade, que cercavam a
campanha de 2010.
Logo depois de lançada, a hipótese já deu sinais de alterar os
planos de outra liderança: Ciro
Gomes, preparando-se para uma
aventura eleitoral em São Paulo,
ressurge como possível candidato de seu partido, o PSB, à Presidência da República.
O quadro estático de uma disputa entre Dilma Rousseff, pelo
PT, e José Serra ou Aécio Neves,
pelo PSDB, começa desse modo a
se mover, o que é positivo.
Há na sociedade brasileira, e
nos próprios partidos que nela
mal e mal se implantam, mais
complexidade do que o roteiro
inicialmente previsto para 2010.
Dilma e Serra, ainda que em
campos opostos, assemelham-se
tanto pelo passado -o da resistência ao regime militar- quanto pelo presente, marcado pelo
pragmatismo desenvolvimentista e por um discurso mais próximo da racionalidade administrativa do que da empatia popular.
De resto, nem a candidatura
tucana representa o ponto de
vista autenticamente conservador que parte de seus eleitores
gostaria de elevar à Presidência,
nem a candidata de Lula reflete
as tendências mais à esquerda de
seu eleitorado.
Uma provável postulação de
Marina Silva vem colocar a temática ambiental com mais candência no debate. Ao mesmo
tempo, tende a expressar inconformidades latentes no petismo
tradicional, tanto com relação
aos rumos tomados pelo governo
Lula como pelo fato de Dilma
Rousseff ter sido imposta como
candidata da agremiação, sem
um mínimo de consulta às instâncias partidárias.
Não deixa de ter visíveis fragilidades, contudo, uma eventual
candidatura do PV -partido
com minúscula participação no
horário eleitoral gratuito e cujas
credenciais no mundo político
real podem ser avaliadas pelo fato de que, entre suas principais
lideranças, avulta o deputado
Zequinha Sarney.
Os partidos brasileiros, como
se sabe, filtram de modo extremamente turvo os movimentos
da sociedade e as aspirações da
população. Num tempo em que
outras formas de organização e
de debate ganham força na vida
política, o jogo de 2010 ainda está, ao contrário do que parecia,
por ser jogado.
Que novos candidatos, representativos de forças reais à esquerda e à direita, possam surgir.
A democracia não se faz de nomeações nem de "candidaturas
naturais", mas de debate e movimento; é o que tem faltado na sucessão presidencial.
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