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CARLOS HEITOR CONY
Eu tive um pesadelo
RIO DE JANEIRO - Os entendidos garantem que, em política, tudo
é possível. Os não entendidos, como
eu, por estranha coincidência, garantem a mesmíssima coisa e nada
os espanta na política, tanto na
amadora como na profissional: tudo é possível.
Vai daí, dei uma de Martin Luther
King e também tive um sonho,
aliás, um pesadelo: um sujeito estranhíssimo, parecido com o Ferreira Gullar, me abria as portas do
futuro, onde havia uma pedra que
parecia um altar e dela tirava um
jornal que tinha na primeira página, em corpo 22, a coluna de um dos
entendidos em política.
No sonho, eu não sabia ler -coisa
que sei mais ou menos na vida
real-, e o sujeito leu para mim a tal
coluna. Nela se dizia que a candidatura de Marina Silva não era para
valer, que Serra e Aécio iriam até o
fim na indecisão de quem seria o
quê, um não querendo ser vice do
outro, abrindo espaço para um tertius dentro do PSDB.
Procura daqui, procura dali, alguém do PMDB, interessado em
não ter candidato próprio, mas louco para ter uma alternativa que o
evite de fechar com Dilma Rousseff,
sugeria que esse tertius fosse Fernando Henrique Cardoso, que, apesar da idade provecta, ainda dá para
o gasto, desde que, quatro anos depois, não tente uma reeleição.
Como me encontrava na dimensão do futuro, pedi acesso a outras
páginas do jornal. E fiquei pasmo:
no segundo caderno, com fotos e
uma nutrida crônica do Ruy Castro
a respeito, havia reportagem dando
conta de que uma expedição de antropólogos, policiais, químicos industriais, peritos em DNA e humoristas de TV tinha finalmente encontrado os ossos de Dana de Teffé.
Com isso, eu teria perdido um assunto recorrente toda vez que estou
sem assunto e teria meu emprego
ameaçado -o que seria a única vantagem do pesadelo.
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