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Um bom sinal
Governo comemora taxa que indica queda importante no desmatamento da Amazônia, mas índice oficial só deve ser fechado depois das eleições
Pelo sexto ano consecutivo, a
taxa de desmatamento na Amazônia deve cair. A notícia é ainda melhor porque há chance de que se
registre a menor área derrubada
desde que o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou
o levantamento com imagens de
satélite, em 1988.
O recorde de baixa pertencia a
2009, com 7.464 km2. Se for confirmada a previsão do Ministério do
Meio Ambiente (MMA), de agosto
do ano passado até o último mês
de julho -o "ano fiscal" do desmatamento da Amazônia- terão
perecido 5.500 km2 de florestas.
Ainda assim, trata-se de extensão
equivalente a 3,7 vezes a área do
município de São Paulo.
Comparado com os 27.772 km2
de 2004, o primeiro período transcorrido inteiramente no período
Lula, é um progresso. Apesar dos
atropelos, as gestões de Marina
Silva e de Carlos Minc à frente do
ministério obtiveram resultados
elogiáveis nesse indicador fundamental, observado com atenção
no Brasil e no exterior.
O desmatamento costuma aumentar em anos eleitorais e de
crescimento econômico. Isso torna ainda mais relevante a projetada queda em 2010. Mas é preciso
matizar o entusiasmo precoce do
governo federal com a taxa, cuja
divulgação mobilizou a presença
de dois ministros (do MMA e da
Ciência e Tecnologia).
A taxa oficial só estará apurada
ao final deste ano, provavelmente
depois das eleições. O que se divulgou foi uma projeção parcial,
baseada nas imagens colhidas
nos 11 meses até junho. E, mesmo
assim, por um sistema de monitoramento menos preciso, o Deter.
Os números oficiais de desmatamento provêm do sistema Prodes, também operado pelo Inpe.
Ele demanda mais processamento
e análise. Por isso consome dois
ou três meses a mais de trabalho.
O Deter trabalha com imagens
de resolução pior do que as do
Prodes e não detecta pequenas
áreas desmatadas.
Quando os números do desmatamento apareciam em alta no Deter, o governo federal alegava que
era preciso aguardar a radiografia
fina do Prodes. Agora que estão
em queda, e o pleito se avizinha,
dados ainda incompletos do Deter
passaram a servir melhor aos interesses do Planalto. Um resultado
considerado bom na frente ambiental é útil para a candidata Dilma Rousseff, que não goza de imagem positiva nessa área.
O público deve manter as barbas de molho, porém. Pelo menos
um instituto respeitado, o Imazon, avalia que a estimativa de
5.500 km2 pode vir a se revelar otimista demais.
De qualquer maneira, pode-se
dizer com segurança que a taxa será baixa, diante do retrospecto incendiário do país na Amazônia.
Um sinal de que as políticas para a
região têm respondido às pressões
da sociedade e vão, afinal, entrando nos eixos. E essa é, sem dúvida,
uma boa notícia para todos.
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