São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Um bom sinal

Governo comemora taxa que indica queda importante no desmatamento da Amazônia, mas índice oficial só deve ser fechado depois das eleições

Pelo sexto ano consecutivo, a taxa de desmatamento na Amazônia deve cair. A notícia é ainda melhor porque há chance de que se registre a menor área derrubada desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou o levantamento com imagens de satélite, em 1988.
O recorde de baixa pertencia a 2009, com 7.464 km2. Se for confirmada a previsão do Ministério do Meio Ambiente (MMA), de agosto do ano passado até o último mês de julho -o "ano fiscal" do desmatamento da Amazônia- terão perecido 5.500 km2 de florestas. Ainda assim, trata-se de extensão equivalente a 3,7 vezes a área do município de São Paulo.
Comparado com os 27.772 km2 de 2004, o primeiro período transcorrido inteiramente no período Lula, é um progresso. Apesar dos atropelos, as gestões de Marina Silva e de Carlos Minc à frente do ministério obtiveram resultados elogiáveis nesse indicador fundamental, observado com atenção no Brasil e no exterior.
O desmatamento costuma aumentar em anos eleitorais e de crescimento econômico. Isso torna ainda mais relevante a projetada queda em 2010. Mas é preciso matizar o entusiasmo precoce do governo federal com a taxa, cuja divulgação mobilizou a presença de dois ministros (do MMA e da Ciência e Tecnologia).
A taxa oficial só estará apurada ao final deste ano, provavelmente depois das eleições. O que se divulgou foi uma projeção parcial, baseada nas imagens colhidas nos 11 meses até junho. E, mesmo assim, por um sistema de monitoramento menos preciso, o Deter.
Os números oficiais de desmatamento provêm do sistema Prodes, também operado pelo Inpe. Ele demanda mais processamento e análise. Por isso consome dois ou três meses a mais de trabalho.
O Deter trabalha com imagens de resolução pior do que as do Prodes e não detecta pequenas áreas desmatadas.
Quando os números do desmatamento apareciam em alta no Deter, o governo federal alegava que era preciso aguardar a radiografia fina do Prodes. Agora que estão em queda, e o pleito se avizinha, dados ainda incompletos do Deter passaram a servir melhor aos interesses do Planalto. Um resultado considerado bom na frente ambiental é útil para a candidata Dilma Rousseff, que não goza de imagem positiva nessa área.
O público deve manter as barbas de molho, porém. Pelo menos um instituto respeitado, o Imazon, avalia que a estimativa de 5.500 km2 pode vir a se revelar otimista demais.
De qualquer maneira, pode-se dizer com segurança que a taxa será baixa, diante do retrospecto incendiário do país na Amazônia. Um sinal de que as políticas para a região têm respondido às pressões da sociedade e vão, afinal, entrando nos eixos. E essa é, sem dúvida, uma boa notícia para todos.


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