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Trilho e asfalto
Se já não é fácil abrir mão de velhos hábitos, que dirá dos comportamentos compulsivos. A população de São Paulo e seus representantes políticos, por décadas
adeptos de carros, avenidas, túneis e viadutos, tem se convencido em anos recentes da necessidade de aumentar os investimentos
em transporte público -sobretudo no metrô.
Mas o tributo retórico pago a soluções de transporte mais racionais ainda não encontra respaldo
no gasto realizado pelo poder público. Um levantamento feito pela
Folha constatou desembolsos superiores a R$ 13 bilhões nas dez
principais obras viárias da Grande São Paulo, na última década.
Estima-se que no mesmo período o metrô tenha recebido cerca
de R$ 12 bilhões -investimento
usado para construir e equipar 30
km de novas linhas. Com tal
quantia, foi possível aumentar a
velocidade média de expansão do
serviço, de toda forma ainda tímida e insuficiente para atender às
necessidades da metrópole.
Seria no mínimo irrealista pleitear a interrupção de todas as
obras viárias na cidade e a transferência de seus recursos para a
ampliação da rede de transporte
coletivo sobre trilhos. Há gastos
com estradas e avenidas que precisam ser feitos, inclusive para
tornar mais racional o fluxo de
veículos coletivos da cidade.
É o caso do Rodoanel, que consumiu aproximadamente metade
do total despendido nas principais obras viárias da última década. Sua construção, que deveria,
na realidade, ter sido realizada
em décadas anteriores, é fundamental para o bom funcionamento de São Paulo.
Mas não deixa de ser ilustrativo
utilizar o gasto com obras viárias
como parâmetro para aquilatar o
investimento em trens e no metrô.
A comparação ajuda a mensurar a
distância entre o discurso político
e a necessária ampliação do
transporte público de qualidade
na capital paulista.
Sem interromper gastos necessários com o transporte rodoviário -sobretudo em soluções coletivas, como os corredores de ônibus-, é preciso expandir o dispêndio com trilhos, estações e
trens nos próximos anos.
Torná-lo proporcionalmente
maior do que os investimentos em
novas avenidas e viadutos deveria ser um objetivo a ser perseguido pelo poder público.
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