São Paulo, segunda-feira, 16 de agosto de 2010

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Editoriais

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Trilho e asfalto

Se já não é fácil abrir mão de velhos hábitos, que dirá dos comportamentos compulsivos. A população de São Paulo e seus representantes políticos, por décadas adeptos de carros, avenidas, túneis e viadutos, tem se convencido em anos recentes da necessidade de aumentar os investimentos em transporte público -sobretudo no metrô.
Mas o tributo retórico pago a soluções de transporte mais racionais ainda não encontra respaldo no gasto realizado pelo poder público. Um levantamento feito pela Folha constatou desembolsos superiores a R$ 13 bilhões nas dez principais obras viárias da Grande São Paulo, na última década.
Estima-se que no mesmo período o metrô tenha recebido cerca de R$ 12 bilhões -investimento usado para construir e equipar 30 km de novas linhas. Com tal quantia, foi possível aumentar a velocidade média de expansão do serviço, de toda forma ainda tímida e insuficiente para atender às necessidades da metrópole.
Seria no mínimo irrealista pleitear a interrupção de todas as obras viárias na cidade e a transferência de seus recursos para a ampliação da rede de transporte coletivo sobre trilhos. Há gastos com estradas e avenidas que precisam ser feitos, inclusive para tornar mais racional o fluxo de veículos coletivos da cidade.
É o caso do Rodoanel, que consumiu aproximadamente metade do total despendido nas principais obras viárias da última década. Sua construção, que deveria, na realidade, ter sido realizada em décadas anteriores, é fundamental para o bom funcionamento de São Paulo.
Mas não deixa de ser ilustrativo utilizar o gasto com obras viárias como parâmetro para aquilatar o investimento em trens e no metrô. A comparação ajuda a mensurar a distância entre o discurso político e a necessária ampliação do transporte público de qualidade na capital paulista.
Sem interromper gastos necessários com o transporte rodoviário -sobretudo em soluções coletivas, como os corredores de ônibus-, é preciso expandir o dispêndio com trilhos, estações e trens nos próximos anos.
Torná-lo proporcionalmente maior do que os investimentos em novas avenidas e viadutos deveria ser um objetivo a ser perseguido pelo poder público.


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