São Paulo, sábado, 16 de setembro de 2006

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Freada discreta

FMI projeta economia mundial em moderada desaceleração em 2007; desequilíbrio entre EUA e Ásia é maior fator de risco

A EXPANSÃO vigorosa da economia mundial no primeiro semestre de 2006 levou o FMI a elevar sua projeção de crescimento no ano como um todo de 4,9% para 5,1%. O "Panorama Econômico Mundial", divulgado nesta semana, prevê desaceleração moderada para 2007, quando a economia mundial cresceria 4,9% e se completariam cinco anos consecutivos de expansão.
No cenário para 2006, os EUA crescem 3,4%; a área do euro, 2,4%; e o Japão, 2,7%. Em conjunto, os países avançados avançam 3,1%. As nações em desenvolvimento apresentam desempenho superior: as economias industrializadas da Ásia (Coréia, Hong Kong, Taiwan, Cingapura) crescem 4,9% e os outros emergentes, 7,3%, impulsionados por China (10%) e Índia (8,3%).
O renitente crescimento da demanda global gera pressões inflacionárias, ao reduzir a capacidade produtiva ociosa na indústria e estimular um ciclo de alta nas commodities, sobretudo as metálicas e o petróleo. Tal quadro levou os bancos centrais das principais áreas monetárias a aumentar suas taxas de juros.
O aumento da inflação e o aperto monetário resultaram em turbulências nos mercados financeiros, em particular em maio e junho. A partir de julho, no entanto, esses movimentos perderam força, e a volatilidade financeira diminuiu.
Os fluxos de capitais para os emergentes, incluindo o Brasil, podem atingir US$ 211,4 bilhões em 2006, sob a liderança dos investimentos diretos. Tendo feito seu ajuste e reforçado suas reservas internacionais, os países em desenvolvimento ficaram menos vulneráveis aos humores erráticos da finança global.
Esse cenário de desaceleração moderada da economia global parece o mais provável, mas evidentemente, não está isento de riscos e incertezas. Persistem os grandes desequilíbrios comerciais entre os EUA, que consomem demais, e o resto do mundo, que poupa demais. Os dólares economizados por estes voltam para Wall Street e financiam os gastos americanos.
A grande pergunta, que continua sem resposta, é até quando poderá persistir essa dinâmica altamente assimétrica da economia mundial, que beneficia os EUA. O risco de turbulências existe, mas permanecerá latente no horizonte visível enquanto as instituições americanas continuarem a dar mostras de que têm recursos e poder para manter-se no centro do sistema econômico do planeta.
Outras potências podem se formar e construir alianças que ameacem a liderança dos EUA. Especula-se muito sobre a emergência da China e de um bloco de países populosos, razoavelmente industrializados e de território vasto: Índia, Rússia e Brasil. Se a importância econômica e geopolítica desse grupo vai crescer a ponto de mudar a correlação de forças desta que tem sido, desde 1945, a "era americana", é uma dúvida que só o passar das décadas será capaz de esclarecer.


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