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A espada de Maomé
RECENDEM A "déjà vu" os
protestos de comunidades
muçulmanas contra observações do papa Bento 16 consideradas antiislâmicas. São como
uma reedição das violentas marchas causadas pela publicação,
por um jornal dinamarquês, de
charges satirizando o profeta
Maomé, no início do ano.
O papa tem, como qualquer
um, o direito de dizer o que pensa. De forma análoga, muçulmanos que se sintam ultrajados pelas palavras do pontífice podem
redargüi-lo. Só o que não é aceitável é o protesto legítimo degenerar em violência.
Já no que diz respeito ao mérito da polêmica, nenhuma das
partes parece ser sem pecado para lançar a primeira pedra. Registre-se que o discurso de Joseph Ratzinger não visava a despertar o furor da "rua árabe",
mas, antes, convidar o islã para o
diálogo inter-religioso.
Aqui começam os paradoxos.
Custa crer que um homem público experiente como o é todo papa
tenha de forma inadvertida se
valido de citações politicamente
incorretas. Quem não deseja desagradar aos muçulmanos deveria abster-se de recorrer à frase
de um imperador bizantino do
século 14 -Manuel 2º Paleólogo- segundo a qual o que Maomé trouxe de novo ao mundo foram "coisas más e desumanas,
como a sua ordem para espalhar
pela espada a fé que ele pregava".
Pode-se discutir se essa foi ou
não a única contribuição do profeta. Mas é inegável que o islã se
expandiu à custa de violência e
conversões obtidas sob o fio da
cimitarra. São fatos históricos.
E este é um ponto que, aliás,
aproxima o islamismo do cristianismo, em especial de sua variedade católica. Roma tampouco
hesitou em utilizar-se da força e
das armas para levar sua "verdade" a outras terras, terras muçulmanas aí inclusas.
Os novos mal-entendidos entre o líder dos católicos e grupos
muçulmanos dão mostras de
quanto o diálogo inter-religioso
ainda precisa evoluir.
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