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Cada vez pior
EUA mudam tática e deixam grande banco quebrar, o que gera reação negativa brutal no mercado financeiro
"E AQUI chegamos,
com Paulson [secretário do Tesouro] aparentemente
acreditando que jogar roleta-russa com o sistema financeiro
dos EUA era a sua melhor opção". A frase, do economista Paul
Krugman, descreve com argúcia
os riscos implícitos na mais nova
cartada do governo Bush na tentativa de domar a crise.
Neste fim de semana, a administração republicana mudou o
padrão adotado e decidiu deixar
um grande banco quebrar. A reação imediata dos mercados à
concordata do Lehman Brothers, entretanto, foi devastadora. Uma violenta onda de liquidação varreu as Bolsas no planeta,
que bateram recordes de desvalorização diária. Nova York perdeu 4,4%, e a Bovespa, 7,6%.
Os bancos centrais na Europa e
nos Estados Unidos foram obrigados a oferecer bilionárias linhas de crédito emergencial ao
setor bancário. O Fed abriu um
leque de US$ 70 bilhões -a
maior linha de empréstimo de
urgência desde os atentados de
11 de setembro de 2001- e relaxou as garantias para as instituições tomarem recursos.
As inevitáveis especulações sobre quem seria o próximo na lista
da insolvência empurraram a
AIG, gigante mundial dos seguros, para o córner. Uma inusitada intervenção do governador de
Nova York, permitindo à empresa um socorro de US$ 20 bilhões,
apenas adiou para hoje a seqüência do drama, o qual, longe de estar restrito à seguradora, abrange outras instituições financeiras de grande porte.
Criticado por ter socorrido outras empresas ameaçadas, transferindo prejuízos e riscos privados para o contribuinte, o governo Bush mudou de estratégia
não apenas por motivação política. Por trás do movimento também está a intenção de forçar o
enxugamento do setor financeiro, livrando-o de instituições, como certos bancos de investimento, responsáveis pela especulação, tanto opaca como desenfreada, que originou a crise.
O que a resposta virulenta dos
mercados evidencia, contudo, é
um ambiente desfavorável a esse
tipo de abordagem. Na ânsia de
fazer caixa e escapar do redemoinho da insolvência, está em marcha uma corrida em manada para vender quaisquer títulos privados que se tenham em mãos e
que ainda sustentem preço. O recado da Casa Branca, de que não
haverá necessariamente ajuda
aos "perdedores", alimenta o pânico dos vendedores.
Mas, quando há um impulso
avassalador para desfazer-se de
patrimônio, ele acaba se desvalorizando de modo generalizado e
acentuado, como ocorre agora
com as Bolsas, as commodities e
as moedas e os papéis de países
emergentes. A ação do governo
norte-americano neste fim de
semana pareceu fiar-se na convicção de que é possível controlar o ritmo e a distribuição das
perdas numa crise de enormes
proporções como esta, fazendo
emergir de seus escombros um
sistema mais robusto.
Eis aí uma opção arriscada. Se
a hipótese não se comprovar, os
custos econômicos e sociais desta derrocada brutal tenderão a
ser ainda maiores.
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