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CLÓVIS ROSSI
Da oração à reunião
SANTIAGO - O embaixador Rubens Ricupero relatou no domingo,
nesta Folha, os apelos desesperados de um diplomata norte-americano para que o Brasil e os países da América do Sul fizessem alguma
coisa para resolver a crise boliviana
do início dos anos 80, representada
por uma narcoditadura chefiada
pelo general Garcia Mesa.
O chanceler brasileiro da época,
Saraiva Guerreiro, limitou-se a sugerir orações pela Bolívia.
Menos de 30 anos depois (o que,
em termos históricos, é bem pouco), o Brasil e seus pares da região
já não rezam pela Bolívia. Ao contrário, reúnem-se em bloco para
tentar ajudar. E -detalhe fundamental- não precisaram de apelos
dos Estados Unidos. A iniciativa da
cúpula da Unasul (União de Nações
Sul-Americanas) é "coisa nossa".
Não sei, ninguém sabe, se reunir-se resolverá mais do que rezar (por
motivos técnicos, escrevo antes do
término da cúpula). Mas que "as
nossas coisas" melhoraram um bocado é inegável.
Primeira e essencial melhoria:
como é que os países sul-americanos poderiam reagir a uma ditadura, ainda que narcoditadura, na Bolívia se quase todos também eram
ditaduras? Hoje, todos são democracias.
Tudo bem que os regimes democráticos não resolveram os seculares problemas da sub-região. Mas a
ausência da democracia só criou
um novo e enorme problema: a ilegitimidade de origem dos governos
autoritários e a violência institucional que todos praticaram.
A reunião da Unasul, mesmo que
não tenha sido chamada com essa
finalidade, é uma primeira aproximação ao passo seguinte necessário: como democracias podem ajudar-se umas às outras concretamente sem violar princípios como
o da soberania e o da não-ingerência? Aliás, ainda são princípios sagrados em tempos de globalização e
da decorrente cessão de soberania
para blocos de países?
crossi@uol.com.br
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