São Paulo, sábado, 16 de outubro de 2004

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REFORMA PALACIANA

Não condiz com o espírito republicano a maneira como está sendo conduzida a reforma do Palácio da Alvorada. Tudo teve início num constrangedor passeio pelo interior do prédio, capitaneado pelo primeiro mandatário, no qual o estado de algumas das dependências e instalações foi exposto em detalhes a um grupo de empresários da área de infra-estrutura, recebido para um almoço palaciano no mês de junho. Ali mesmo acertou-se que os empresários se cotizariam para levantar os recursos necessários ao restauro, estimado em R$ 16 milhões. Seria oportuno conhecer os detalhes para julgar se essa quantia não é elevada para os propósitos a que se destina.
Agora, às vésperas do início das obras, noticia-se a adesão de novas empresas ao mutirão. Formou-se um "pool" de 23 companhias, que diluirá o papel dos empreiteiros, inicialmente apresentados como os únicos responsáveis pela obra.
Na próxima terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva receberá os financiadores em jantar, desta vez na Granja do Torto (que, esperemos, se encontre em bom estado), para que tomem conhecimento de um "plano de comunicação" com vistas ao acompanhamento dos trabalhos. Prevê-se a criação de uma página na internet na qual serão exibidas as diversas etapas da empreitada.
O palácio da Alvorada, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer para ser a residência oficial do presidente da República, integra o patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do país e é um símbolo da República que, sem dúvida, precisa ser preservado -mas não apenas fisicamente. Se há necessidade de obras, elas deveriam custeadas com recursos públicos e de forma transparente, mediante a devida licitação.
Infelizmente, não é o que se tem observado. A Presidência escolheu um caminho que autoriza os cidadãos brasileiros a ver na iniciativa um caso de promiscuidade entre as esferas pública e privada. A despeito das boas intenções que possam motivar os envolvidos, a reforma em tudo se assemelha a uma ação entre amigos.


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