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CLÓVIS ROSSI
A caixa-preta e o coração
SÃO PAULO - Vamos conversar francamente: você se acha de fato habilitado a julgar quem disse a verdade e
quem mentiu na chuva de números
despejada anteontem sobre o telespectador pelos candidatos José Serra
e Marta Suplicy?
Concretamente: Serra deve ter razão ao dizer que os túneis da avenida
Faria Lima acabaram custando R$
70 milhões a mais do que os R$ 150
milhões inicialmente orçados. Digo
"deve ter" porque Marta não negou.
Mas você tem informações para saber se o custo adicional se deveu às
"rochas" e "fios" que Marta diz terem
sido encontrados ou ao pouco caso
com o dinheiro público, conforme a
versão de Serra?
Eu, francamente, não tenho. Como
não tenho condições de dizer se Serra
mandou muito, pouco ou nenhum
dinheiro para São Paulo durante sua
gestão na Saúde. Você sabe?
Dirá você que a culpa é nossa, dos
jornalistas. Terá razão, em parte.
Continuamos sendo, com raras exceções, "especialistas em assuntos gerais", como nos qualificam ironicamente, pela contradição em termos
da expressão.
Mas nunca houve -nem nos tempos das vacas gordas (e das Redações
idem)- uma equipe multidisciplinar capaz de analisar contas públicas
e, ao mesmo tempo, contas de saúde,
educação, obras, saneamento, segurança -enfim, o vasto elenco de temas que surgiram no debate.
Nem houve nem haverá tal coleção
de gênios da raça, capazes ainda por
cima de escrever suas análises em linguagem acessível ao público leigo, a
grande maioria, por definição.
Bom, feito o "nostra-culpa", reconheçamos francamente que o eleitor
vai à caixinha, que é hoje a urna,
diante de uma caixona (preta), que é
o funcionamento do serviço público
nos seus vários níveis.
Ou alguém começa a decodificar esses segredos ou o voto será sempre
com o fígado (ou com o coração, o
que é bom, até muito bom, mas é
também muito insuficiente).
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