São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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Crédito à paz


Muhammad Yunus, ganhador do Nobel, é o pai do microcrédito, que ajudou a reduzir a pobreza em Bangladesh


O PRÊMIO Nobel da Paz foi concedido a Muhammad Yunus, fundador do Banco Grameen, uma bem-sucedida instituição de microfinanciamento em Bangladesh. Professor de economia, é considerado o grande mentor do microcrédito, ficando conhecido mundialmente como "banqueiro dos pobres".
Fundado em 1976, o Grameen Bank obteve status de banco em 1983. Desde então realiza pequenos empréstimos, que somam US$ 5,72 bilhões. O Banco conta com 6,5 milhões de clientes, sendo 96% mulheres, com taxa de inadimplência em torno de 5%.
A principal condição para ser aceito como cliente é que as pessoas que solicitam crédito o façam em grupos de cinco e se apóiem para reembolsar a dívida. Os membros do grupo são incentivados a acompanhar as solicitações uns dos outros. Se um dos integrantes não pagar, o empréstimo a todo o grupo é suspenso. Isso configura uma espécie de sistema de aval coletivo.
Além disso, o alvo do Grameen são os pequenos negócios - pouco mais que extensões do ambiente familiar-, e não o consumo. Estudos do Banco Mundial indicam que cerca de 50% das pessoas que emprestam dinheiro do banco popular idealizado por Yunus saem da linha de pobreza em até cinco anos e outros 25% deixam a pobreza absoluta.
O conceito do banco Grameen (que significa povoado) foi exportado para mais de 40 países, incluindo o Brasil. Nos últimos anos, ocorre um avanço do microcrédito no território brasileiro. Em 2001 foram criadas as sociedades de crédito ao microempreendedor, especializadas em conceder pequenas somas a esses negócios, basicamente para capital de giro e investimentos.
Em 2003, os bancos brasileiros passaram a ser obrigados a destinar ao microcrédito no mínimo 2% de seus depósitos à vista. Trata-se de empréstimos de até R$ 500 para pessoas físicas e R$ 1 mil para jurídicas, com taxas de juros não superiores a 2% ao mês e prazo mínimo de quatro meses para quitação. Estima-se que o microcrédito no Brasil tenha girado R$ 9 bilhões em 2005.
O Nobel da Paz ao mentor dos empréstimos ao empreendedorismo popular é um fato extraordinário. Como disse Kofi Annan, secretário-geral da ONU, "Yunus desenvolveu uma poderosa arma para ajudar as pessoas a melhorar de vida, sobretudo os que mais precisam". O microcrédito é um mecanismo que vai além de dispositivos, como o Bolsa Família, que se limitam a transferir dinheiro dos impostos aos mais pobres. A "poderosa arma" de Yunus ajuda a incutir o espírito empresarial em larga escala e favorece a criação de emprego e renda. Emancipa, enfim -e do modo mais digno que há.


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