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Morte em massa
ESTUDO divulgado pelo influente periódico médico
britânico "The Lancet" indica que a guerra no Iraque já
custou a vida a 655 mil pessoas,
ou 2,5% da população do país
-pouco mais de 500 iraquianos
por dia desde que o conflito teve
início, em março de 2003.
O número contrasta fortemente com as cifras apresentadas pela ONG Iraq Body Count (IBC)
-entre 43.850 e 48.693 civis
mortos- e com os 30 mil óbitos
admitidos pelo presidente George W. Bush em dezembro.
A explicação está na diferença
de metodologias. Não se sabe como Bush chegou aos 30 mil. Já o
IBC se vale da vigilância passiva,
isto é, procura sistematizar mortes verificadas por serviços de
saúde, ONGs ou noticiadas pela
mídia. O problema desse método
é que, a crer na experiência de
outros conflitos, ele dificilmente
registra mais de 20% dos óbitos.
O estudo publicado no "The
Lancet", que leva a assinatura de
instituições como a Universidade Johns Hopkins e o Massachusetts Institute of Technology,
utiliza a amostragem estatística.
Entrevistadores foram a 1.849
lares representativos de toda a
população e coletaram dados relativos a 12.801 pessoas. Os resultados foram então extrapolados.
Das 655 mil mortes estimadas,
601 mil foram atribuídas a causas violentas, como armas de fogo e bombas. O restante são óbitos que excedem a taxa "normal"
verificada antes da invasão e podem de algum modo ser relacionadas à guerra. Incluem doenças, acidentes de trânsito etc.
Bush contestou a metodologia,
apesar de ela ser usada em diversos estudos epidemiológicos patrocinados pelo governo americano. Também foram feitas críticas ao "timing" da divulgação da
pesquisa, que ocorre às vésperas
de eleições legislativas nos EUA.
Seja como for, o estudo não faz
muito mais do que fornecer, com
algum rigor científico, um número para a carnificina no Iraque, a
qual ninguém ousa negar. Bush
conseguiu apanhar um país castigado por quatro décadas de
uma das mais selvagens ditaduras do planeta para lançá-lo num
inferno ainda mais sangrento de
terrorismo e guerra civil. Poucos
apostavam que seria possível.
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