São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 2006

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Morte em massa

ESTUDO divulgado pelo influente periódico médico britânico "The Lancet" indica que a guerra no Iraque já custou a vida a 655 mil pessoas, ou 2,5% da população do país -pouco mais de 500 iraquianos por dia desde que o conflito teve início, em março de 2003.
O número contrasta fortemente com as cifras apresentadas pela ONG Iraq Body Count (IBC) -entre 43.850 e 48.693 civis mortos- e com os 30 mil óbitos admitidos pelo presidente George W. Bush em dezembro.
A explicação está na diferença de metodologias. Não se sabe como Bush chegou aos 30 mil. Já o IBC se vale da vigilância passiva, isto é, procura sistematizar mortes verificadas por serviços de saúde, ONGs ou noticiadas pela mídia. O problema desse método é que, a crer na experiência de outros conflitos, ele dificilmente registra mais de 20% dos óbitos.
O estudo publicado no "The Lancet", que leva a assinatura de instituições como a Universidade Johns Hopkins e o Massachusetts Institute of Technology, utiliza a amostragem estatística. Entrevistadores foram a 1.849 lares representativos de toda a população e coletaram dados relativos a 12.801 pessoas. Os resultados foram então extrapolados.
Das 655 mil mortes estimadas, 601 mil foram atribuídas a causas violentas, como armas de fogo e bombas. O restante são óbitos que excedem a taxa "normal" verificada antes da invasão e podem de algum modo ser relacionadas à guerra. Incluem doenças, acidentes de trânsito etc.
Bush contestou a metodologia, apesar de ela ser usada em diversos estudos epidemiológicos patrocinados pelo governo americano. Também foram feitas críticas ao "timing" da divulgação da pesquisa, que ocorre às vésperas de eleições legislativas nos EUA.
Seja como for, o estudo não faz muito mais do que fornecer, com algum rigor científico, um número para a carnificina no Iraque, a qual ninguém ousa negar. Bush conseguiu apanhar um país castigado por quatro décadas de uma das mais selvagens ditaduras do planeta para lançá-lo num inferno ainda mais sangrento de terrorismo e guerra civil. Poucos apostavam que seria possível.


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