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RICARDO MELO
PT: passado
e presente
AINDA NÃO se conhece a reação do eleitor à idéia de
Marta Suplicy de bisbilhotar a intimidade do prefeito Kassab. Mas, tirando marqueteiros, a
ex-prefeita e seu comitê de campanha, ninguém digno de nota apoiou
de público estratégia tão infame.
Seja qual for o impacto nas urnas, a iniciativa de Marta já diz
muito sobre o vazio programático
do PT. Havia uma época em que os
militantes do partido usavam os
neurônios em reuniões para ao
menos tentar melhorar a vida dos
pobres, purificar a política e aprimorar a democracia no país.
Para os adversários, eram tertúlias inúteis, coisa de quem preferia
filigranas ideológicas aos "problemas reais". Por mundo real entenda-se ganhar eleições a qualquer
custo, usar o erário em benefício
próprio (de preferência sem deixar
vestígios) e garantir o futuro após
uma baldeação no governo.
A maioria do PT decidiu entrar
no jogo pelos fundos -e desde então se vê isso que está aí. Seria injusto achar que o prestígio de Lula
vem do nada, ou que suas iniciativas sociais são desimportantes.
Mas equivaleria a brincar de avestruz concluir que, hoje em dia, isto
basta para diferenciar o PT a ponto
de convencer um eleitor médio a
votar na legenda sem pestanejar.
Tal cenário faz parte do passado
por culpa do próprio partido e da
desidratação política a que se submeteu. A pobreza das idéias aproxima a campanha em São Paulo de
uma disputa de síndico de condomínio. Marta ataca Kassab acusando-o de copiar idéias como os
CEUs e o bilhete único -mais ou
menos como os tucanos faziam
com os petistas, quando acusavam
Lula de apropriação do que consideravam melhorias do Plano Real.
Mas quando Kassab responde
que vai continuar com os programas que o PT criou (assim como o
PT afirma que irá manter as AMAs
que Kassab instituiu...), os petistas
então escolhem como alvo a trajetória do prefeito -seu passado ao
lado de Pitta e de Maluf.
Certo, não é um bom currículo,
longe disso. Mas tampouco pega
bem Lula idolatrar usineiros, freqüentar palanques com gente como Jader Barbalho, afagar Severino Cavalcanti e apoiar no Rio um
candidato que até outro dia o chamava de chefe da quadrilha do
mensalão. Para o eleitor, acaba
sendo o velho jogo de soma zero.
Kassab, que de bobo não tem nada, aproveita a onda. Em sabatina
da Folha, o antes obscuro assessor
deu-se ao luxo de decretar o fim da
direita e da esquerda para se vender como o candidato da "eficiência". E estamos conversados.
Difícil era imaginar que, mesmo
incapaz de inovar e de encontrar
seu próprio caminho, o PT enveredasse para a baixaria pura e simples. Se o partido acha que o passado condena Kassab, o presente,
sem dúvida, condena os petistas.
RICARDO MELO é secretário-assistente de Redação.
Hoje, excepcionalmente, não é publicada a coluna de
Kenneth Maxwell.
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