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Recuo no IR
NÃO DEU certo a manobra
governista de empurrar
para o ano que vem, sem
alarde, o pagamento de pelo menos R$ 3 bilhões, de um total de
R$ 15 bilhões devidos pelo Tesouro a quem pagou Imposto de
Renda a mais em 2008. A impostura foi flagrada a meio caminho
por reportagem desta Folha, e o
Planalto, resignado, fez seus cálculos eleitorais e voltou atrás.
O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, obrigado a reconhecer
o atraso proposital nos pagamentos diante da trama revelada, prometeu anteontem que o
governo vai quitar a dívida com
os contribuintes até dezembro.
Ficariam pendentes, como de
praxe, as restituições de IR retidas na chamada malha fina -casos em que esclarecimentos e
documentação adicionais precisam ser apresentados ao fisco.
O episódio é um exemplo de
manual sobre como é da natureza do governo, de qualquer governo, tentar esconder atitudes e
decisões que lhe possam trazer
desgaste. Deixa explícita, igualmente, a importância, para a sociedade como um todo, da fiscalização exercida pela imprensa
em nome do interesse público.
Outro aspecto pedagógico desse fatoa é ter mostrado que não
há margem para ilusionismo na
política fiscal. Quando o governo
libera a gasto no custeio e oferece estímulos por tempo excessivo a uma economia já em plena
recuperação, terá, obrigatoriamente, de prejudicar setores da
sociedade para obter recursos.
No caso, o Planalto, ao atrasar
a restituição do IR, pretendia
lançar mão de dinheiro que não
lhe pertence. Como não pode
aplicar o mesmo princípio aos
credores de sua dívida, pois a
manobra seria considerada um
calote, escolheu sua vítima de
sempre: os contribuintes.
Para liquidar de vez essa margem de arbítrio do Executivo
com o dinheiro alheio, o Congresso deveria estabelecer em lei
um prazo obrigatório para a devolução do IR recolhido em excesso. Seis meses após encerrado o ano fiscal seria um limite bastante razoável.
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