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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula em detalhes
SÃO PAULO - Lula voltou a gravar
ontem participações no programa
eleitoral de Dilma durante o horário
de expediente. Deu, como ele diria,
"aquela enforcadinha básica". É
um detalhe sem importância? Tudo
o que diz respeito a Lula se tornou,
de certa forma, "um detalhe", não
necessariamente sem importância.
Lula praticamente transformou a
Presidência num comitê de campanha. Atropelou a liturgia do cargo e
desdenhou a legislação eleitoral repetidas vezes. Anunciou que iria
extirpar parte da oposição do país e
tratou a imprensa como adversária
a ser vencida. Fez troça da (e com a)
República pela qual deve zelar.
Se Dilma tivesse vencido a eleição no primeiro turno, a descoberta
da traficância da parentada na Casa
Civil também teria passado à história como outro "detalhe", vencido
pela marcha triunfal do lulismo.
(O êxito de Lula, aliás, eximiu o
PT de um exame crítico de suas práticas no poder e serviu para legitimar o vale-tudo no campo ético-político, com exceções de praxe, pois
há gente boa e séria no partido).
O fato é que Lula não preservou
nem a Presidência nem a sua imagem nesta campanha. Colocou-as
antes a serviço da sua candidata.
Foi tanto o entusiasmo (digamos
assim) do presidente sobre os palanques na reta final do primeiro
turno que ele pode, sim, ser corresponsabilizado pelo revés no dia 3.
Pareceu até que a tutela sobre o
processo eleitoral havia atingido
um ponto de exaustão, como se
uma overdose de remédio tivesse
envenenado a candidata.
Em parte em função deste diagnóstico, Dilma se viu obrigada a ensaiar seus primeiros passos, o que
fez com algum destrambelho no debate. O PT, porém, como uma mãe
insegura, hesita entre estimulá-la a
andar (coisa que evitou no primeiro
turno) e devolvê-la ao colo do pai.
A popularidade de Lula voltou a
subir, mostra hoje o Datafolha. Ele
atingiu 81% de aprovação. Numa
disputa tão acirrada, e diante de
um quadro estável, esse é o detalhe
da pesquisa que chama a atenção.
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