|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Três reformas
Cronicamente adiadas, mudanças nos sistemas político, fiscal e de Previdência se impõem na pauta de 2009
PASSADA a agitação das
eleições municipais e
aproximando-se já o final
do ano, o mundo político
retorna a seu costumeiro estado
de estagnação e mediocridade.
Enquanto o Congresso improvisa uma saída matreira para a
questão da fidelidade partidária,
cogitando instituir um mês oficial para a troca de legendas, volta à baila, em recentes declarações do presidente Lula, o tema
pouco momentoso da candidatura Dilma Rousseff à sucessão
presidencial.
Nem mesmo a crise econômica
se mostra capaz de impor, ao governo e à oposição, agendas mais
ambiciosas de reforma. Tudo se
resume, por enquanto, à administração pontual das emergências, campo sempre convidativo
para a troca de favores e a negociação de interesses fisiológicos.
Foi o que se viu na tramitação
da medida provisória 443, cujo
objetivo principal -a autorização para que bancos estatais federais comprem participação em
empresas públicas e privadas-
cercou-se, na Câmara dos Deputados, de acréscimos estranhos e
diversos, como a concessão de
crédito para empreiteiras e o aumento de incentivos fiscais ao
setor de informática.
Tudo normalíssimo, se pensarmos no que tem sido a atividade
política brasileira nos últimos
anos, em que a deterioração dos
costumes parlamentares conviveu com relativa bonança no cenário econômico.
Nada indica, entretanto, que
mais comemorações em torno
das descobertas do pré-sal ou das
duvidosas proezas do PAC sejam
suficientes para ocupar a agenda
do Executivo ao longo de 2009,
enquanto o Congresso, entre os
escândalos de sempre e as barganhas de rotina, destitui-se de
qualquer iniciativa.
Uma pauta concreta de mudanças está à espera do empenho
articulado dos agentes políticos
para ser posta em discussão.
Três reformas básicas, a da Previdência, a do sistema tributário
e a do sistema político, arrastam-se cronicamente pelos gabinetes
de Brasília.
Não sendo 2009 um ano eleitoral, e dados os desafios que a
conjuntura impõe sobre o país,
acentua-se a expectativa de que
finalmente se rompa a inércia
que tem caracterizado o Executivo federal e o Congresso nessas
questões.
A interrupção da escalada tributária, e uma redução programada da carga fiscal a médio prazo, tornam-se agora imprescindíveis para incutir mais confiança nos agentes econômicos. Mais
do que nunca, a racionalidade
nos gastos públicos e seu efetivo
controle pela sociedade contam
decisivamente para colocar o
Brasil numa situação favorável
no conjunto das economias
emergentes.
A reforma política, a diminuição dos encargos tributários e o
equacionamento das contas da
Previdência vinham sendo protelados não só pela sua inerente
complexidade como também pelo clima de acomodação e triunfalismo que caracteriza o atual
governo.
Não se trata, por certo, de forçar a nota pessimista nos dias
que correm. Nada pior, numa
crise, do que o pânico e a improvisação. Por isso mesmo, o que se
impõe é agir, em profundidade,
desde já.
Próximo Texto: Editoriais: Lobby às claras
Índice
|