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CARLOS HEITOR CONY
Números redondos
RIO DE JANEIRO - Li não sei onde que o mundo vai realmente acabar quando o Sol se apagar, daqui a
exatos 5 bilhões de anos. Ignoro como chegaram a esse cálculo. Minha
modesta calculadora não chega a
tantos dígitos. Em todo o caso, a
previsão baseada na ciência é mais
confiável do que a profecia de Nostradamus, que mais uma vez pisou
na bola, insinuando que iríamos todos para o beleléu na passagem do
século 20.
O que me fascinou nesse palpite
científico não foi o fim do mundo
em si. São remotas as possibilidades
de presenciá-lo, não creio que nos
próximos anos a ciência aumente a
tal e tamanho ponto a expectativa
de vida de um brasileiro sujeito às
chuvas e trovoadas do Terceiro
Mundo.
Ao tomar posse no governo da
antiga Guanabara, Negrão de Lima
recebeu de seus técnicos em urbanismo um relatório apocalíptico: a
cidade tinha 5 milhões de ratos em
seus esgotos, tubulações, garagens e
terrenos baldios, o que dava a média de um rato por habitante. Se não
fosse tomada uma providência, e
tendo em vista a fecundidade dos
ratos, em menos de dois anos a cifra
triplicaria, havendo 3 ratos para 1
carioca. Ele estava ameaçado de
não governar os cariocas, mas governar ratos. Perplexo, perguntou:
"Mas como é que vocês conseguiram contar?".
É mais ou menos assim que me
sinto diante da científica previsão
sobre o fim do mundo. Fico pasmo
diante de cifras redondas. Os árabes, que eram fortes em matemática e inventaram a álgebra, não apreciavam números redondos, daí que
o grande clássico da literatura deles
se chama "As Mil e Uma Noites". E,
ao contrário dos ocidentais, que juravam por 700 milhões de demônios, eles preferiam jurar pelas barbas do Profeta, que, apesar de plural, era uma só.
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