São Paulo, domingo, 16 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Números redondos

RIO DE JANEIRO - Li não sei onde que o mundo vai realmente acabar quando o Sol se apagar, daqui a exatos 5 bilhões de anos. Ignoro como chegaram a esse cálculo. Minha modesta calculadora não chega a tantos dígitos. Em todo o caso, a previsão baseada na ciência é mais confiável do que a profecia de Nostradamus, que mais uma vez pisou na bola, insinuando que iríamos todos para o beleléu na passagem do século 20.
O que me fascinou nesse palpite científico não foi o fim do mundo em si. São remotas as possibilidades de presenciá-lo, não creio que nos próximos anos a ciência aumente a tal e tamanho ponto a expectativa de vida de um brasileiro sujeito às chuvas e trovoadas do Terceiro Mundo.
Ao tomar posse no governo da antiga Guanabara, Negrão de Lima recebeu de seus técnicos em urbanismo um relatório apocalíptico: a cidade tinha 5 milhões de ratos em seus esgotos, tubulações, garagens e terrenos baldios, o que dava a média de um rato por habitante. Se não fosse tomada uma providência, e tendo em vista a fecundidade dos ratos, em menos de dois anos a cifra triplicaria, havendo 3 ratos para 1 carioca. Ele estava ameaçado de não governar os cariocas, mas governar ratos. Perplexo, perguntou: "Mas como é que vocês conseguiram contar?".
É mais ou menos assim que me sinto diante da científica previsão sobre o fim do mundo. Fico pasmo diante de cifras redondas. Os árabes, que eram fortes em matemática e inventaram a álgebra, não apreciavam números redondos, daí que o grande clássico da literatura deles se chama "As Mil e Uma Noites". E, ao contrário dos ocidentais, que juravam por 700 milhões de demônios, eles preferiam jurar pelas barbas do Profeta, que, apesar de plural, era uma só.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O PMDB, que PMDB?
Próximo Texto: Emílio Odebrecht: Com o foco nas oportunidades
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.