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CARLOS HEITOR CONY
Ganhamos a guerra
RIO DE JANEIRO - Como quase todo mundo, tenho parentes e amigos que moram nos Estados Unidos, principalmente em Nova York
e em Washington, alvos preferenciais da atual onda terrorista. Falo
com eles pelo telefone e por e-mail,
leio os jornais e revistas. Não é difícil imaginar o que sentem.
Potencializando o inimigo na escala do próprio medo -não gosto
de falar em paranoia-, fico sabendo que a população, espalhada pelas grandes e pequenas cidades,
não teme exatamente um novo
trauma como o do World Trade
Center. Mas todos imaginam que alguma coisa diabólica poderá acontecer, como o envenenamento dos
mananciais.
Tecnicamente, é mais fácil um
grupo terrorista envenenar a água
do que repetir o sofisticado ataque
do 11 de Setembro. E é natural que
haja este temor.
Durante a 2ª Guerra Mundial, era
eu criança ainda, tão logo o Brasil
entrou no conflito, havia gente que
jurava ter visto submarinos alemães em Copacabana. Dentro deles, havia câmeras que fotografavam os banhistas, ouviam todas as
conversas. Sabiam de tudo, quem
era a favor ou contra o nazismo.
Um vizinho que morava no Leme
chegou a vedar suas janelas com
uma pesada cortina preta. Cismava
que uma câmera potentíssima, em
algum ponto do litoral carioca,
estava fiscalizando a sua vida
particular.
Pode parecer brincadeira, mas
isso aconteceu -e em condições
bem menos prováveis. Quando os
ingleses mandaram colocar minas
no canal da Mancha para impedir o
ataque de navios alemães, falou-se
seriamente em colocar minas no
doméstico canal do Mangue.
Houve até mesmo um exercício
de blecaute. Moradores da orla marítima passaram uma noite sem
acender luzes em suas casas e apartamentos. É evidente que, com tantas e tamanhas cautelas, ganhamos
a guerra.
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