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São Paulo, terça-feira, 16 de dezembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Cicatrizes

BRASÍLIA - Não há o que comemorar na expulsão de uma senadora e três deputados federais do PT, como bem disse o presidente do partido, José Genoino. Todos perdem.
O governo perde muito, como pivô da crise. Não se criticam os radicais pelo conteúdo das cobranças, mas pela forma, pela oportunidade, pela virulência, pela falta de lealdade.
O PT também perde, e ninguém gostaria de estar na pele de Genoino neste momento. Além do gesto sempre dolorido e com viés autoritário de expulsar companheiros, o partido sofre ainda pelo racha. Um terço do diretório nacional apoiou os radicais. Sabe-se lá quanto da militância...
Enfim, perdem os expulsos. Heloísa Helena virou ídolo de radicais, de funcionários públicos, de boa parcela da mídia, de velhos adversários do PT na própria esquerda e até de setores da direita que querem ver o circo pegar fogo. Mas o que ela, Babá, Luciana Genro e João Fontes vão fazer fora do PT? Criar um partido não é simples. Muito menos um novo PT.
Apesar dos pesares, o governo e o PT têm como neutralizar as perdas. Basta o país sair da estagnação e atingir a rota de prosperidade -se é que consegue. Lula, Palocci e José Dirceu esfregariam na cara dos radicais e em todas as nossas caras que a estratégia está certa: concentrar as maldades neoliberais no início para soltar as bondades sociais um dia.
Mas, mesmo que o governo continue patinando na estagnação e no continuísmo, a dúvida em relação aos radicais é se os gestos de coragem não acobertam uma certa covardia. Eles romperam com muita facilidade e com muita pressa com o grande mito Lula, com o governo que ajudaram de dentro a eleger e com o único projeto hoje viável da esquerda nacional. E se tornaram a mais ácida oposição.
Jornalistas estão no seu papel de criticar. Companheiros de luta têm de aguentar o tranco. Chico Oliveira, Heloísa, Luciana, Babá e João Fontes abandonaram o barco na partida, em meio à tempestade e em nome de princípios de esquerda. Tomara que não estejam, a médio e longo prazos, fazendo o jogo da direita.


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