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VINICIUS MOTA
As cãs do outubro
SÃO PAULO - Vivo fosse, Roberto
Campos estaria exultante. O ministro tinha especial prazer em provocar esquerdistas com a maldição
dos cabelos brancos -das cãs, como
diziam os antigos. Quem não é socialista na juventude sofre do coração; quem continua socialista na
maturidade padece da cabeça.
Mudam os termos, mudam as
idades da afetação, mas a idéia reavivada pelo presidente Lula é um
clássico na política mundial. Nada
mais parecido com um Saquarema
(conservador) do que um Luzia (liberal) no poder, já se afirmava nestas bandas em meados do século 19.
É a evolução da espécie humana,
na intrigante teoria presidencial.
Desnecessário esperar que milhares de gerações se sucedam, idéia
mofada de Darwin, quando podemos evoluir a jato, em 40 anos, 20
para os sortudos. Pintar os cabelos
de branco acelera o processo? De
preto o retarda? Carecas evoluem?
"A falta de humor, sabe, é uma
coisa que o país não pode perder",
disse Lula, reagindo aos arrufos da
gente teimosa. Ato falho ou erro só:
quis dizer que fez uma brincadeira,
mas o pessoal da esquerda tomou a
piada a sério. Lula não quer briga.
O presidente em outubro fez 61,
ficou mais grisalho e renovou a estadia no Planalto e no Torto (quem
pilotará a grelha?). Não quer inimizades. Delfim Netto é agora seu
chapa. Pena Roberto Campos não
estar por aqui para partilhar os papos a três; gargalhariam da idiotice
da esquerda nas pilhérias que só o
criador do BNDE sabia narrar.
Lula só tem amigos. Provoca inveja em Sarney com as nove legendas unidas à base inicial do segundo
mandato. Até o PMDB, agora um
partido de programa, está fechado
com o governo, desde que muitas
porteiras estejam fechadas na Esplanada. É o nirvana presidencial.
Não venham os chatos estragar o
clima com o depressivo Scott Fitzgerald: "Aos 18, nossas convicções
são colinas de onde enxergamos;
aos 45, são buracos onde nos escondemos". O presidente já passou dos
45 e 45 é o número dos tucanos.
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