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FERNANDO RODRIGUES
O político profissional
BRASÍLIA - O salário mensal de
R$ 24,5 mil que os deputados e os
senadores se autoconcederam é
mais um sinal da consolidação da
profissionalização da política -para o bem e para o mal.
Uma pesquisa nos registros oficiais mostra que a profissão de
maior incidência entre os vencedores das últimas eleições é a de político. Muitos nem exerciam mandato antes de concorrer em outubro
passado, mas preencheram o formulário da Justiça espontaneamente se dizendo políticos.
É idílica a imagem do brasileiro
abnegado que larga sua profissão de
médico, advogado ou jornalista para dar quatro anos de sua vida na
função de vereador ou deputado.
Salvo as exceções para confirmar a
regra, só profissionais entram. É
preciso muito dinheiro, organização e capacidade associativa.
A falta de pujança crônica da sociedade civil está ainda mais acentuada nestes tempos de lulismo.
Até as ONGs já estão se preparando
para mudar de nome. Devem se
transformar em OMNGs (organizações meio não-governamentais),
dado o volume de dinheiro público
que recebem.
Os políticos deitam e rolam nesse
vazio de cidadania crítica. Profissionalizados, eles agora se preocupam em conferir uma aura de legalidade aos seus estilos de vida. Precisam ganhar salário alto para justificar os gastos. "A maior aflição dos
que roubam aqui dentro é não ter
como usar o dinheiro, pois sempre
haverá quem aponte o dedo dizendo que é fruto de roubo", disse-me
uma vez um senador. A frase é cada
vez mais verdadeira.
A internet ontem foi o veículo dos
protestos contra o aumento dos
congressistas. Muitas mensagens
indignadas. Mas não apareceu uma
alma em frente ao Congresso para
gritar contra o escárnio.
A partir de janeiro, o assunto estará esquecido. O brasileiro, como
se sabe, é um povo bom e cordial.
frodriguesbsb@uol.com.br
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