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CARLOS HEITOR CONY
Resistência hipócrita
RIO DE JANEIRO - O Exército
chileno vai expulsar de seus quadros o neto de Augusto Pinochet,
que fez um discurso de despedida
do avô considerado ofensivo ou restritivo aos militares que durante
tantos anos garantiram a ditadura
naquele país.
Desde que tomou o poder logo
após a morte de Allende, Pinochet
contou com o apoio irrestrito de
seus companheiros de farda, governou com mão forte e não foi contestado pelos militares. Ele próprio decidiu sair da Presidência, mantendo, porém, uma faixa considerável
de poder, chefiando o Estado-Maior das Forças Armadas e se autonomeando senador vitalício.
Não foi derrubado por um golpe
de Estado -os militares chilenos o
aceitaram até o último momento.
Somente agora, com o revertério
constitucional, manifesta seus pruridos democráticos. O povo chileno,
embora dividido a respeito de Pinochet, elegeu para presidente da República uma mulher que foi torturada e teve o pai assassinado durante os anos de chumbo daquele país.
Não li e dificilmente lerei o discurso de despedida do neto do ex-ditador. Acredito que ele falou expressando os sentimentos da família e de parte de alguns militares
que intimamente consideram Pinochet um "benefactor" da nação.
As ditaduras no Chile e no Brasil
não caíram por contestações armadas, e sim pelo desgaste interno e
pela execração popular. No Brasil,
as Forças Armadas são o "grande
mudo" que não mais se intromete
em questões alheias às suas funções
constitucionais. No Chile, a classe
militar, que foi o sustentáculo da ditadura, procura limpar seu passado
expulsando de suas fileiras o neto
do ditador, cujo discurso seria certamente elogiado se Pinochet ainda
estivesse vivo e no poder.
O que acontece no Chile se repete
em vários países que mantiveram
longas ditaduras apoiadas por militares e pelo poder econômico.
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