São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2010 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Desafio para estadistas PAULO SKAF
A indústria foi uma das responsáveis pela rápida recuperação do Brasil, um dos primeiros países a vencer a grande crise mundial de 2008 e 2009. Contudo, o setor é o mais exposto às danosas consequências da sobrevalorização do real, que está exacerbando as desvantagens competitivas de nossos produtos, abrindo espaço a volumes crescentes de importações, em detrimento da produção nacional. O bom desempenho da manufatura em 2010 e os riscos que pesam sobre ela no próximo ano são temas preocupantes. Diante da importância do assunto, não só para a própria atividade como para a nossa economia, é necessária uma profunda reflexão sobre os fatores que permeiam a questão cambial. Embora seja essa uma ameaça aguda, exigindo solução urgente, trata-se apenas de um dos fatores que dificultam a concorrência das mercadorias brasileiras no comércio internacional. Sua premência, portanto, não pode relegar a um segundo plano as reformas estruturais (em especial a tributária/fiscal/previdenciária e trabalhista), há tanto tempo reclamadas pela sociedade. Com redução de impostos e, simultaneamente, dos gastos de custeio do governo e desoneração dos encargos incidentes sobre a folha de pagamentos, sobrarão mais recursos para que investimentos privados e públicos sejam feitos. Assim, será possível reduzir os juros (e taxas menores significam menos atração de moeda estrangeira em busca de remuneração em nosso mercado financeiro, mitigando a tendência de alta do real). Nessa análise delineia-se, portanto, o grande desafio da presidente Dilma Rousseff. Caso ela consiga efetivar as reformas, terá dado imenso passo para a sustentabilidade da boa performance da economia brasileira. Esperamos, dessa maneira, que a nova equipe de governo atente para o alerta dos setores produtivos quanto à impossibilidade de nosso PIB continuar crescendo em ritmo adequado num cenário de juros e impostos exagerados e câmbio equivocado. Nesse contexto, são muito preocupantes os rumores quanto a uma eventual tentativa de recriação da CPMF, aquele famigerado imposto do cheque, que combatemos com tanto vigor em 2007, impedindo que continuasse tirando montanhas de dinheiro das atividades produtivas. Afinal, a arrecadação tributária do governo está quebrando todos os recordes e as verbas do Orçamento para a saúde (setor ao qual deveria se destinar a taxa) nem sequer têm sido integralmente gastas. Assim, em vez de falar em aumentar impostos e em ressurreição de tributos, seria fundamental que a presidente da República e a nova legislatura priorizassem as reformas estruturais. Essa, sim, é a lição de casa essencial para garantir o crescimento perene e o almejado desenvolvimento! Nosso sistema tributário precisa ser indutor, e não um freio aos investimentos e à geração de empregos; o Estado não deve arrecadar mais do que precisa para manter serviços de qualidade em saúde, educação, segurança pública e seguridade social, bem como para arcar com investimentos em infraestrutura e com o custeio parcimonioso de sua máquina administrativa. Se atender a esse antigo anseio dos cidadãos brasileiros, Dilma Rousseff não será simplesmente presidente da República. De seu futuro currículo certamente constará a palavra "estadista". PAULO SKAF, 56, é empresário e presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo). Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: Kenneth Maxwell: Gays Próximo Texto: Gustavo Romano: Menos reforma, mais inteligência Índice | Comunicar Erros |
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