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MÁRIO MAGALHÃES
Tape o nariz; o Pan vem aí
RIO DE JANEIRO - Os carnês do
IPTU que começam a chegar aos lares cariocas exalam um odor que remete aos pedaços mais imundos da
baía de Guanabara e às ondas prateadas de peixes mortos que encantam olhares e afugentam narizes da
lagoa Rodrigo de Freitas.
Na capa do carnê, a Prefeitura do
Rio escreve: "XV Jogos Pan-Americanos - Este investimento vale ouro
para a cidade". Na contracapa, promete: "Ganha a cidade, ganha o turismo, ganha você".
Até agora, você perde.
E, é bom avisar logo, perdem não
só os contribuintes locais mas também os do Estado e de todo o país. A
conta os une em um imenso buraco
cujo fundo se desconhece.
O comportamento dos governos
coincide. Em 2003, o "Diário Oficial" do município anunciou que o
estádio olímpico custaria R$ 60 milhões (30% a mais em valor atual) e
ficaria pronto em 2004. Está em R$
350 milhões e segue em obras.
A então governadora Rosinha
Matheus cravou em 2005: a reforma do Maracanã para o Pan de julho de 2007 sairia por R$ 71 milhões. O orçamento deu um salto,
triplo, para R$ 232 milhões.
Ainda no Ministério do Esporte,
Agnello Queiroz apalavrou: o Complexo Esportivo de Deodoro exigiria R$ 45 milhões dos cofres federais. Já lhes subtrai R$ 94 milhões.
A gênese do rombo é um projeto
que progrediu sem controle social.
Alardearam um legado de benefícios ao Rio; o legado pode ser a dívida. O único desagrado que se vê é o
de quem não logra empurrar uma
fatura para o colo -federal- alheio.
O Ministério Público cala. E o jornalismo, em escala notável, se empenha em cobrar verbas quando os
estouros configuram escândalos.
O Pan era uma grande idéia. Como às vezes nas belíssimas baía e lagoa, o que atrapalha é o mau cheiro.
mariomagalhaes@folhasp.com.br
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