São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 1999

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Nem Freud explica

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Do México em 94 ao Brasil em 99, passando pela Ásia e pela Rússia, uma dúzia de nações sucumbiu ante o tal de mercado.
Eram países diferentes na geografia, história, nas idiossincrasias, culturas, políticas (inclusive cambiais ou fiscais). Não obstante, rodaram todos.
Em comum, paradoxalmente, só tinham, excluída a Rússia, uma única característica: todos eram louvados incessantemente como histórias de sucesso, imediatamente antes da crise.
Dispensável lembrar as toneladas de tinta e papel que foram gastas para enaltecer os "tigres asiáticos". Sobre o México, só o meu arquivo, que é pobre, guarda pérolas imperdíveis de babação de ovo sobre Carlos Salinas de Gortari, o presidente que afundou o país e, ainda por cima, é procurado hoje por suspeitas sólidas de corrupção e até de envolvimento em assassinatos políticos.
Sobre FHC, só eu já fiz uma dúzia de resumos de textos laudatórios publicados pelas grifes mais lustrosas da mídia internacional. Claro que é cedo, ainda, para incluir o presidente brasileiro na lista dos fracassados, mas no mínimo já sofreu um sério arranhão.
Aí, de duas uma: ou pouca gente entende alguma coisa de economia ou há algo de fenomenalmente errado com o jogo econômico global, a ponto de levar para o buraco países tão diferentes em quase tudo e de gerar uma crise após a outra.
A OIT (Organização Internacional do Trabalho), em estudo recente sobre a Ásia, escolhe a segunda alternativa. Diz que as deficiências apontadas no funcionamento das economias asiáticas "estiveram sempre presentes e eram compatíveis com alto crescimento no período pré-crise".
Só faltou acrescentar que a lógica de cassino é que, no mínimo, ajudou a afundar tantos países. Tanto é assim que os governos da Alemanha e do Japão estão propondo pôr limites a essa lógica, sem o que a lista de fracassos somará, cedo ou tarde, outros nomes.



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