São Paulo, domingo, 17 de janeiro de 1999

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A Previdência e a expectativa de vida

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Ganhei um livro no último Natal sobre os problemas da sociedade que envelhece. O estudo é de grande valor para um país como o Brasil, cuja população está envelhecendo a uma velocidade espantosa ("Maintaining Prosperity in an Ageing Society", OECD, 1998).
Os avanços da medicina têm permitido espichar a vida média para além dos 70 anos e com mais saúde. Há países, como o Japão, em que a maioria das pessoas vive mais de 80 anos.
Ao mesmo tempo, os seres humanos vêm se aposentando cada vez mais precocemente. Em uma vida de 80 anos, as pessoas trabalham 35. Nesses 35 anos, o tempo trabalhado é pouco mais da metade dos dias do ano.
Em outras palavras, o mundo caminha para uma situação em que, ao longo de sua existência, os seres humanos trabalham um ano para ficar dois sem trabalhar. Essa equação sobrecarrega os sistemas previdenciários. Não há país que apresente equilíbrio nas contas da seguridade social, o que levou a OECD a propor uma série de medidas, das quais destaco as seguintes:
1) Os sistemas de aposentadoria, a estrutura tributária e os programas sociais devem ser reformados de modo a remover os incentivos à aposentadoria precoce; 2) as leis trabalhistas devem ser modificadas de forma a estimular e assegurar a atividade dos mais idosos; 3) os benefícios das aposentadorias devem ser compostos de um "mix" de recursos públicos e privados.
No Brasil, quando se fala em criar trabalho para idosos, logo vêm aqueles que temem criar dificuldades para o emprego dos jovens. Penso, porém, que esse argumento não se sustenta. A redução do enorme déficit da Previdência Social tem um impacto positivo na geração de mais investimentos e empregos para todos.
Além do mais, os mais velhos carregam consigo uma experiência profissional valiosa que pode ser transferida aos mais jovens, melhorando a sua empregabilidade.
No mesmo mês em que a OECD lançava o precioso estudo em Paris, várias empresas do interior de São Paulo começaram a empregar pessoas com mais de 50 anos. As experiências mostram que os mais velhos estão transmitindo aos mais jovens os valores do zelo, da honestidade, cordialidade, disciplina e várias outras qualidades que são essenciais no mundo atual. Trata-se de valores que dificilmente se apreendem na escola e que, no entanto, por meio do exemplo, são inoculados nos mais jovens.
Essas coisas parecem remotas, mas é preciso tomar providências já para evitar um colapso maior no futuro. Ou seja, estamos num mundo em que a seguridade social precisa ser continuamente reformada e ajustada às condições predominantes que caracterizam a economia atual. Da mesma maneira, impõe-se reformular a legislação trabalhista para facilitar a interface entre os mais velhos e os mais jovens no mercado de trabalho.
Creio que pela matéria aqui exposta o leitor chegará à conclusão de que o problema não é só do Brasil, mas principalmente de todos os países onde a saúde e a educação venham a permitir uma maior expectativa de vida.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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