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A Previdência e a expectativa de vida
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Ganhei um livro no último Natal sobre os problemas da sociedade que
envelhece. O estudo é de grande valor
para um país como o Brasil, cuja população está envelhecendo a uma velocidade espantosa ("Maintaining
Prosperity in an Ageing Society",
OECD, 1998).
Os avanços da medicina têm permitido espichar a vida média para além
dos 70 anos e com mais saúde. Há países, como o Japão, em que a maioria
das pessoas vive mais de 80 anos.
Ao mesmo tempo, os seres humanos
vêm se aposentando cada vez mais
precocemente. Em uma vida de 80
anos, as pessoas trabalham 35. Nesses
35 anos, o tempo trabalhado é pouco
mais da metade dos dias do ano.
Em outras palavras, o mundo caminha para uma situação em que, ao
longo de sua existência, os seres humanos trabalham um ano para ficar
dois sem trabalhar. Essa equação sobrecarrega os sistemas previdenciários. Não há país que apresente equilíbrio nas contas da seguridade social, o
que levou a OECD a propor uma série
de medidas, das quais destaco as seguintes:
1) Os sistemas de aposentadoria, a
estrutura tributária e os programas
sociais devem ser reformados de modo a remover os incentivos à aposentadoria precoce; 2) as leis trabalhistas
devem ser modificadas de forma a estimular e assegurar a atividade dos
mais idosos; 3) os benefícios das aposentadorias devem ser compostos de
um "mix" de recursos públicos e privados.
No Brasil, quando se fala em criar
trabalho para idosos, logo vêm aqueles que temem criar dificuldades para
o emprego dos jovens. Penso, porém,
que esse argumento não se sustenta. A
redução do enorme déficit da Previdência Social tem um impacto positivo na geração de mais investimentos e
empregos para todos.
Além do mais, os mais velhos carregam consigo uma experiência profissional valiosa que pode ser transferida
aos mais jovens, melhorando a sua
empregabilidade.
No mesmo mês em que a OECD lançava o precioso estudo em Paris, várias empresas do interior de São Paulo
começaram a empregar pessoas com
mais de 50 anos. As experiências mostram que os mais velhos estão transmitindo aos mais jovens os valores do
zelo, da honestidade, cordialidade,
disciplina e várias outras qualidades
que são essenciais no mundo atual.
Trata-se de valores que dificilmente se
apreendem na escola e que, no entanto, por meio do exemplo, são inoculados nos mais jovens.
Essas coisas parecem remotas, mas é
preciso tomar providências já para
evitar um colapso maior no futuro.
Ou seja, estamos num mundo em que
a seguridade social precisa ser continuamente reformada e ajustada às
condições predominantes que caracterizam a economia atual. Da mesma
maneira, impõe-se reformular a legislação trabalhista para facilitar a interface entre os mais velhos e os mais jovens no mercado de trabalho.
Creio que pela matéria aqui exposta
o leitor chegará à conclusão de que o
problema não é só do Brasil, mas
principalmente de todos os países onde a saúde e a educação venham a permitir uma maior expectativa de vida.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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