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Crise de poder
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Atribuo a dúvida aos
neurônios castigados pela vida, pelo
excesso de complicações e fadigas.
Mas li não sei onde que, durante a
campanha de Napoleão na Itália, o
equivalente ao banco central da época
fez as contas e achou que a França
gastava muito com as tropas, pediu
que ele voltasse, pois as finanças do
país estavam exauridas. E os banqueiros particulares, que pagavam parte
da fatura, queriam receber o que era
deles, com os juros de praxe.
Acho que Stendhal fala sobre isso,
mas o autor de "Le Rouge et le Noir"
era mentiroso, inventava tudo, não é
fonte histórica, embora seja um dos
melhores mananciais para saber como
se faz literatura e arte.
Lembrei isso porque a resposta de
Napoleão para os banqueiros foi um
palavrão, o mesmo que outro general
francês pronunciou após uma derrota.
A diferença é que Napoleão estava em
vésperas de Marengo, que muitos até
hoje consideram sua maior façanha.
Felizmente, o governo brasileiro ainda não chegou ao interessante estágio
de hospício, em que abundam napoleões andando pelos corredores com a
mão na barriga e dando ordens para a
cavalaria atacar e a artilharia disparar. Mas está perto disso.
A prioridade que FHC deu àquilo
que o governo arrota como "credibilidade internacional" acabou nisso que
aí está: estamos sem credibilidade e
sem desenvolvimento.
Sei que não foi Stendhal o autor da
frase muito repetida e cujo teor vai de
memória mesmo: pode-se enganar alguns durante todo o tempo; pode-se
enganar a todos durante algum tempo; mas não se pode enganar todo
mundo durante todo o tempo.
O governo de FHC dá sinais de ingovernabilidade -leio isso cada vez
mais nos editoriais da mídia. Bichado
politicamente, com suspeitas de corrupção até aqui não investigadas, a
crise de agora está longe de ser apenas
econômico-financeira. É uma crise de
poder.
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