São Paulo, terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

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A FAVOR DA CPI

As revelações envolvendo o subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência da República, Waldomiro Diniz, mereceram rápida resposta do governo, que exonerou o funcionário e determinou a instauração de um inquérito. São reações previsíveis diante de fatos de difícil contestação. A questão é saber se essas medidas são suficientes ou se, como pretendem alguns, seria cabível a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Diniz, como se sabe, era uma espécie de braço direito do ministro da Casa Civil, José Dirceu, nas negociações com partidos e parlamentares. Ocupava um gabinete no próprio Palácio do Planalto. Foram levantadas suspeitas de que sua atuação não se limitou à negociata com o empresário e bicheiro Carlos Augusto Ramos, em 2002. Já com o governo Luiz Inácio Lula da Silva eleito, há suspeitas de que Waldomiro, integrante da equipe de transição, teria influenciado a renovação de um contrato entre uma multinacional de processamento de dados e a Caixa Econômica.
Diante dessa situação, é lícito indagar qual o alcance das ações do funcionário, os métodos por ele utilizados e suas relações com os demais membros da administração Lula. Trata-se de uma investigação perfeitamente adequada a uma CPI -e o PT, estivesse na oposição, seria o primeiro a clamar por ela.
Os indícios, porém, são de que dificilmente a comissão terá lugar. Os compromissos entre o governo e sua ampla base parlamentar falarão mais alto. É provável que a investigação também não interesse tanto aos demais partidos, apesar da tentação de instrumentalizá-la em ano eleitoral. Se não quisermos ser hipócritas, devemos admitir que acertos como o encetado por Waldomiro não são fatos isolados na política brasileira. Isso nos remete a um aspecto importante relacionado ao episódio, que é a necessidade de maior transparência nas doações para campanhas.
É duvidoso que o financiamento público resolva a questão, já que sempre será possível arrecadar irregularmente. Certo é que não é mais possível conviver com essa situação nebulosa, fonte potencial de desvios e escândalos. Uma CPI sobre o caso Waldomiro seria, além de tudo, uma oportunidade para precipitar e aprofundar esse debate.


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