São Paulo, quinta-feira, 17 de fevereiro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

O limite da competência

SÃO PAULO - O resultado da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados já foi suficientemente degradante. Não precisavam o governo e os governistas acrescentar à esbórnia uma seqüência de comentários sem pé nem cabeça ou de uma obviedade tamanha que dá vergonha até em quem não tem nada com isso.
Fiquemos no próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para quem o governo não perdeu porque "não disputou a eleição, quem disputou foi o PT". Me engana que eu gosto, presidente.
O governo não tinha interesse nenhum na eleição, ao contrário do que acontece em qualquer votação parlamentar, em qualquer lugar do mundo? O governo não fez o diabo para eleger seu candidato, Luiz Eduardo Greenhalgh?
Ainda que fosse assim, a frase do presidente dá a entender que o governo não tem nada a ver com o PT e vice-versa. Quer dizer então que Lula deixou o PT -sem nem sequer um comunicado oficial?
É verdade que não seria de estranhar na medida em que seu governo não tem o menor parentesco com o que foi o partido nos seus 23 primeiros anos de vida, mas não custava avisar o distinto público.
Lula não ficou sozinho nas tolices ditas a respeito do resultado. Houve até gente do próprio governo que pregou "respeito ao resultado", como se houvesse alguma outra hipótese, tipo dar o golpe e fechar a Câmara.
É cada vez mais evidente que o PT e seus principais caciques caíram direitinho no tal princípio de Peter, aquele que diz que ninguém deve ir além do limite de sua competência.
O PT era formidável na oposição. Era o seu limite de competência. Passou do limite, tornando-se governo, e o resultado é o que se vê dia após dia. Um claro exemplo é o do presidente do partido, José Genoino, um craque na oposição, mas completamente perdido, zonzo, como líder de partido governista.
Para completar o círculo, Lula produziu também a seguinte pérola: "Houve uma votação, ganhou quem teve mais voto". Então tá.


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