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ELIANE CANTANHÊDE
O Severino e o Silva
BRASÍLIA - Quem está acostumado à linguagem empolada dos líderes políticos e à vazia dos diplomatas vai ter
de se reciclar com o novo presidente
da Câmara, Severino Cavalcanti. O
"rei do baixo clero" é bem diferente:
direto, objetivo, cortante.
Foi assim a entrevista de estréia de
Severino, ontem, num ambiente
cheio de modernidades e cores elegantes criado pelo seu antecessor na
TV Câmara. Ele nem olhou ao redor.
Sentou-se, respondeu a 15 perguntas
num recorde de aproximadamente
27 minutos e foi-se embora, deixando
os jornalistas cheios de notícias.
Ainda em tom de campanha, continuou falando mais para dentro do
que para fora da Câmara. "O presidente [ele mesmo] não é um ditador", "não vai ter igrejinha aqui dentro", "quem manda são os deputados, quem vai mandar é o plenário",
disse, manifestando vontade impossível: "Acabar com essa história de
baixo clero, médio clero, novo clero".
E manteve as promessas: aumento
de salário já, garantia do recesso de
90 dias, distribuição de viagens internacionais irmamente. Só avisou que
não aceita esse troca-troca de partido
toda hora. "Uma imoralidade."
Aliás, como você a esta altura já sabe, ele é cheio das moralidades e contra essa história de "homem com homem e mulher com mulher".
Mas o que interessa mesmo são os
acenos do novo presidente da Câmara para Lula, com quem se encontra
hoje. Como todos os seus últimos
muitos antecessores, anunciou independência, sem subordinação ao Planalto. Ainda a ver.
Por fim, o anúncio mais palpitante
de Severino: é a favor da prorrogação
do mandato de Lula por dois anos,
sem direito a reeleição. Ou seja: praticamente ameaçou tocar em frente
emendas constitucionais nesse sentido. Lula que se cuide. Já imaginou
que guerra em ano pré-reeleitoral?
Severino, portanto, é assim: diretíssimo e transparente no que diz, mas
cheios de cartas na manga inimagináveis nas relações com o Planalto.
Aliás, é bom a gente ir aprendendo. O
baixo clero, com ou sem metáforas,
aparentemente veio para ficar.
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