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ESTRANGEIRO ISENTO
Ao decidir isentar de Imposto
de Renda o investidor estrangeiro que aplica em títulos públicos
brasileiros, o governo federal tomou
alguns cuidados para diminuir os
efeitos da medida sobre o câmbio.
Também se preocupou em restringir
a possibilidade de fraudes fiscais
com a nova regra. O mecanismo, porém, não ficou livre desses riscos.
Cidadãos de outros países já pagavam tributo diferenciado nas aplicações que faziam nos papéis brasileiros. Mas a isenção vai aumentar essa
diferença de tratamento tributário a
ponto de tornar-se uma tentação para brasileiros que queiram sonegar
IR se fazendo passar por estrangeiros. Ao proibir a isenção nos casos
em que o investidor venha de paraísos fiscais, a medida provisória que
institui o novo regime tentou fechar
uma porta evidente à fraude. Resta
saber se o sofisticado mundo da finança global não vai abrir outras.
Preocupação de toda medida econômica hoje deveria ser a sua repercussão no câmbio. Sob o impacto do
anúncio da desoneração aos estrangeiros, o dólar fechou ontem a R$
2,116, o menor patamar desde março
de 2001. Se surtir o efeito desejado, a
medida redundará no aumento da
entrada de dólares no país, o que vai
pressionar ainda mais o real para cima. O cuidado do governo em retirar
as operações de curtíssimo prazo da
lista de transações isentas de IR matiza, mas não anula, essa expectativa.
O governo brasileiro acaba de passar à inusitada condição de credor
em moeda forte dentro de seu próprio território. Quer dizer que a queda do dólar agora faz a dívida pública
aumentar, e não diminuir. Esse é o
maior índice de fadiga dos instrumentos até agora usados para frear a
escalada do real. Comprar dólares à
vista, ainda que seja para quitar débitos no exterior, significa também aumentar a dívida pública líquida.
O custo dessas políticas -na essência corretas- vem ficando exorbitante por conta da insistência do
Banco Central em diminuir apenas
discretamente os juros reais básicos
da economia brasileira. O sopro de
criatividade para buscar novos meios
de gerir a finança pública ainda não
visitou as reuniões do Copom.
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