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CLÓVIS ROSSI
O messias do Caribe
SÃO PAULO - O que me incomoda
em Hugo Chávez não é o seu "socialismo do século 21" nem o seu histrionismo. Incomoda o autoritarismo, sim, as manobras para fazer-se
votar, o incontrolável apetite pelo
poder.
Mas o maior problema nem é esse. É o messianismo, essa ideia, que
impregnou toda a campanha para o
referendo de domingo, de "depois
de mim, o dilúvio", típica do absolutismo monárquico.
Homens (ou mulheres) do destino não existem, pelo menos não na
minha concepção de mundo.
O messianismo na política termina
sempre em tragédia -ou numa prolongada ditadura do "messias" ou
na sua queda, em geral cruenta, seguida de um período, mais ou menos longo, de anarquia.
Feita essa ressalva fundamental,
é importante entender que Chávez,
como todos os caudilhos populistas
latino-americanos que o antecederam, não nasce de combustão instantânea. Nasce de necessidades
e/ou percepções das camadas desfavorecidas da população, que buscam e buscam e buscam quem as ice
da destituição.
Quando encontram alguém que o
faça -ou parece fazê-lo-, agarram-se a ele de uma forma que acaba alimentando o messianismo. O peronismo na Argentina, talvez o mais
acabado exemplo de populismo, foi
muito isso -e permaneceu, ao menos como estado de espírito, mesmo depois de morto Perón.
No caso de Chávez, suspeito que
sua vitória se tenha devido menos à
notória manipulação do eleitorado
e mais ao fato de que hoje há postos
médicos nos morros de Caracas,
precários que sejam, mas melhores
que o nada de antes.
Se quiser derrotar Chávez em
2012 (o que se aprovou foi apenas a
possibilidade de reeleição, não a sua
obrigatoriedade), a oposição terá
que demonstrar aos destituídos
que, acima de "messias", o sistema
velará por eles.
Como no Brasil, aliás.
crossi@uol.com.br
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