São Paulo, terça, 17 de fevereiro de 1998

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Economia de estrelas

ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Pergunta ao brigadeiro Lélio Lôbo: 'O sr. aceita continuar ministro da Aeronáutica se o presidente FHC for reeleito?"
Resposta rápida, sem titubear: "Mas o Ministério da Aeronáutica nem vai mais existir..."
De fato, o principal efeito da criação do Ministério da Defesa, até dezembro, será o fim do Emfa e dos três ministérios militares (Exército, Marinha e Aeronáutica). No início, os militares chiaram. Agora, como se vê, essa é uma página virada na discussão.
Acabar com os ministérios já é uma ousadia. Mas não é só isso. A intenção é também acabar com boa parte das funções hoje reservadas a oficiais das três Forças e que serão fatalmente afuniladas numa só, no novo ministério.
Só para citar alguns exemplos, o Ministério da Defesa terá um Alto Comando unificado, um serviço de inteligência comum e um só centro para o serviço militar dito obrigatório.
Acabando as funções, acabam as respectivas vagas de oficiais. Logo, o número de generais, brigadeiros e almirantes vai diminuir. Atualmente, há 139 generais só na força terrestre. Deles, 14 são generais-de-exército, ou seja, ocupam o posto máximo.
Esses "quatro estrelas" formam o todo-poderoso Alto Comando e estão espalhados pelo país inteiro. Chefiam desde os comandos militares regionais até as secretarias específicas da Força (como a de finanças), ou os departamentos (tipo Departamento de Material Bélico).
Sem falar nos que já estão oficialmente na reserva, mas têm cargos estratégicos -como o próprio ministro Zenildo de Lucena e o chefe do Emfa, Benedito Bezerra Leonel.
As mudanças correspondem à profissionalização das Forças Armadas, mas elas não serão sem dor. Vão produzir alguma economia, muita racionalidade e... uma baita gritaria.
FHC conhece bem a turma. De um lado, é filho de militar. De outro, é sociólogo e teve lá seus problemas na época em que ainda não esquecia o que escrevia.
É por isso que a coisa vai, mas cercada de cuidados. A Aeronáutica, por exemplo, adora voar alto. É difícil cortar suas asas.



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