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Pressão americana
Cresce insatisfação dos EUA com regras cambiais da China, que perturba o equilíbrio global com seus elevados superavits
A RÁPIDA emergência da
China como potência
de primeira grandeza
implica mudanças na
estrutura de poder global. Algumas projeções indicam que o PIB
chinês será maior que o dos EUA
antes de 2030. Em que pesem interesses comuns, há vários contenciosos entre os dois países -e
outros por certo surgirão.
No campo econômico, o principal deles, no momento, diz respeito à política cambial da nação
asiática, avaliada pelos EUA e
por outros governos como "mercantilista" e nociva ao funcionamento da economia mundial.
A China adota um padrão de
câmbio que oscila do fixo ao administrado. De 2006 a meados
de 2008 foi permitida uma lenta
valorização de sua moeda, o
yuan, da ordem de 20% -estancada com o agravamento da crise
internacional. Desde então a taxa mantém-se estável em relação
ao dólar.
Neste período, a China acumulou saldos externos crescentes.
Passou de um quase equilíbrio,
em 2000, para superavits de US$
430 bilhões, em 2008, e US$ 285
bilhões, em 2009 -ano de crise.
Para os americanos o yuan estaria subvalorizado em algo entre 20% e 40%. A prova seriam os
volumosos superavits e o aumento das reservas chinesas no
ritmo de US$ 30 bilhões por mês.
A consequência da compra de
dólares pela China é o aumento
de sua posição credora, tema que
passa a ser ainda mais sensível
nos EUA em razão do alto desemprego e das eleições legislativas do final do ano.
Já o lado chinês considera que
o câmbio não é responsável pelos
superavits e que cabe aos EUA
controlar sua tendência ao consumismo e aos deficits fiscais. A
melhor contribuição que a China
poderia dar à reordenação da
economia mundial estaria em
suas políticas de estímulo ao
consumo interno.
A resistência chinesa é previsível. Um país superavitário sempre se oporá a valorizar sua moeda, dificultando o ajuste dos outros. Vem daí a assimetria recessiva do sistema monetário internacional -há muito identificada.
No embate, as duas partes vêm
elevando o tom. Na sexta-feira
passada, o premiê chinês afirmou que não considera a moeda
de seu país valorizada e acusou
os EUA de politizarem o tema.
Além disso, reafirmou seu desconforto quanto à segurança dos
títulos públicos americanos.
A resposta foi rápida: mais de
uma centena de congressistas
assinaram carta pedindo que o
governo Obama declare a China
um país "manipulador" do câmbio. Tal procedimento abriria caminho para uma queixa na Organização Mundial do Comércio
-que dificilmente, no entanto,
teria condições políticas de arbitrar uma disputa desse porte entre as duas grandes potências.
Não deixa de despertar preocupações a escalada deste conflito. Mas o fato é que seria desejável mais flexibilidade por parte
do governo chinês. O país já perdeu há anos o "privilégio da irrelevância". Suas decisões ganharam peso sistêmico e seu superavit tornou-se um elemento de
perturbação do equilíbrio global.
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