São Paulo, quinta-feira, 17 de março de 2011

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ELIANE CANTANHÊDE

Clima de surpresa

BRASÍLIA - No Egito, Barack Obama produziu manchetes mundo afora acenando com um novo patamar nas relações dos EUA com o mundo árabe. Na Índia, anunciando apoio à inclusão do país como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. E no Brasil?
A dois dias da chegada do presidente norte-americano a Brasília e a três de seu discurso à la Evita na Cinelândia, no Rio, o que se vê é uma disputa de versões elegantes e tangenciais pela imprensa.
Na versão brasileira, o Planalto sonha com medidas para reverter a balança comercial, que já foi favorável ao Brasil em quase US$ 10 bi em 2006, deu uma cambalhota e chegou a um deficit beirando US$ 8 bi em 2010. Na americana, a intenção de Obama é aprofundar as exportações para o Brasil, que geram 250 mil empregos em solo gringo.
Na versão brasileira, a questão da cadeira permanente no Conselho da ONU só vai receber uma referência indireta e burocrática no Comunicado Conjunto. Na americana, pode haver surpresas, e o presidente anunciar algo mais consistente para afagar o ego brasileiro.
Na versão brasileira, o Comunicado Final vai fazer referência ao "interesse comum" e à "parceria" dos dois países na área de energia -petróleo, gás e biocombustíveis. Na americana, é algo bem mais concreto, que envolve muitas verdinhas nos próximos anos: a compra antecipada de petróleo do pré-sal. Ou seja, uma espécie de garantia de preferência, como a China já obteve em outras épocas.
As versões do Brasil e dos EUA só coincidem numa coisa: Obama está louco para gostar de Dilma, Dilma está louca para gostar de Obama, e assim começarem novos tempos nas relações entre Brasil e EUA, superando as dificuldades de quando o presidente aqui era "o cara".
Ao mostrar que quer novos tempos com o Brasil, Obama estará sinalizando ao mundo o que quer com toda a América Latina. Se isso é só da boca para fora, o tempo dirá.


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