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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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A LÓGICA EUROPÉIA

Foi assinado ontem, em Atenas, o acordo pelo qual a União Européia receberá outros dez países-membros a partir de 1º de Maio de 2004. Trata-se da maior expansão do bloco europeu em sua história, que irá agregar novos 80 milhões de habitantes aos 370 milhões de hoje. A consolidação de mais um ambicioso passo na formação da UE, num contexto de guerra no Iraque, acaba por expressar de forma radical o contraste entre a concepção e o exercício do poder entre europeus, de um lado, e norte-americanos, de outro.
Nessa discussão, é oportuno relembrar uma das tristes passagens recentes, entre tantas que houve, do secretário da Defesa dos Estados Unidos. No momento em que ficou claro que Alemanha e França não endossariam as pretensões belicistas do governo Bush, Donald Rumsfeld tachou o comportamento dessas duas nações como reminiscência da "velha Europa". Era uma alusão, velada, ao nacionalismo europeu do século 19 e de inícios do século 20, cujos rebentos mais sanguinários foram duas grandes guerras mundiais e o nazi-fascismo.
Se ainda fosse preciso um acontecimento para demostrar que o comportamento que hoje mais se aproxima do velho nacionalismo belicoso dos europeus é justamente o dos Estados Unidos, basta nos atermos ao que ocorreu, até aqui, na guerra do Iraque. A nação que se lançou numa aventura guerreira, atropelando o direito internacional e as instâncias multilaterais e afrontando a opinião pública mundial, foram os EUA.
Enquanto isso, a Europa continental -pois a postura britânica é um caso que merece reflexão à parte- seguia no seu projeto de construção de um consenso político historicamente inédito, de adensamento de instituições regionais, de agregação de novos parceiros desgarrados da antiga União Soviética.
Para os céticos, o projeto europeu, com todas as dificuldades inerentes a uma união tão ambiciosa, não tem condições de impor-se como alternativa ao poderio financeiro e econômico -lastreado na incontrastável capacidade militar- dos EUA. Tomara que estejam errados.


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