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A LÓGICA EUROPÉIA
Foi assinado ontem, em Atenas, o acordo pelo qual a União
Européia receberá outros dez países-membros a partir de 1º de Maio de
2004. Trata-se da maior expansão do
bloco europeu em sua história, que
irá agregar novos 80 milhões de habitantes aos 370 milhões de hoje. A
consolidação de mais um ambicioso
passo na formação da UE, num contexto de guerra no Iraque, acaba por
expressar de forma radical o contraste entre a concepção e o exercício do
poder entre europeus, de um lado, e
norte-americanos, de outro.
Nessa discussão, é oportuno relembrar uma das tristes passagens
recentes, entre tantas que houve, do
secretário da Defesa dos Estados
Unidos. No momento em que ficou
claro que Alemanha e França não endossariam as pretensões belicistas
do governo Bush, Donald Rumsfeld
tachou o comportamento dessas
duas nações como reminiscência da
"velha Europa". Era uma alusão, velada, ao nacionalismo europeu do
século 19 e de inícios do século 20,
cujos rebentos mais sanguinários foram duas grandes guerras mundiais
e o nazi-fascismo.
Se ainda fosse preciso um acontecimento para demostrar que o comportamento que hoje mais se aproxima do velho nacionalismo belicoso
dos europeus é justamente o dos Estados Unidos, basta nos atermos ao
que ocorreu, até aqui, na guerra do
Iraque. A nação que se lançou numa
aventura guerreira, atropelando o direito internacional e as instâncias
multilaterais e afrontando a opinião
pública mundial, foram os EUA.
Enquanto isso, a Europa continental -pois a postura britânica é um
caso que merece reflexão à parte-
seguia no seu projeto de construção
de um consenso político historicamente inédito, de adensamento de
instituições regionais, de agregação
de novos parceiros desgarrados da
antiga União Soviética.
Para os céticos, o projeto europeu,
com todas as dificuldades inerentes a
uma união tão ambiciosa, não tem
condições de impor-se como alternativa ao poderio financeiro e econômico -lastreado na incontrastável
capacidade militar- dos EUA. Tomara que estejam errados.
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