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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

As últimas do Alencar

BRASÍLIA - O vice-presidente da República, José Alencar, é um mineirinho de cara doce, bom de palanque, contador de história e esperto que só ele. Lula adora seu vice, que é do PL e, garoto pobre, de poucos estudos, virou empresário de grande porte.
É por isso que, a cada dia que passa, aumenta a curiosidade. Por que Alencar só abre a boca para criticar ou duvidar de políticas em discussão no governo? Vira e mexe, ele esquece que é vice-presidente, amigo de Lula e filiado ao aliado PL e sai com quatro pedras contra a política de juros estratosféricos herdada do governo tucano e mantida a ferro e fogo pelo petista. É quando o vice volta a ser apenas empresário -ou candidato.
Numa reunião na CNI (Confederação Nacional da Indústria e, neste caso, típica toca dos leões), disse que as taxas de juros são "despropositadas" e que o Brasil está "encabrestado". A platéia delirou. E o que Lula achou? Não se sabe ao certo.
Na contramão de Lula, da área econômica -Palocci inclusive-, do FMI, do Banco Mundial e do mercado, Alencar também já andou mostrando o que a coisa não está boa: "O Brasil não está tão bem assim. Temos que fazer alguma coisa para ajustar a economia brasileira para que ela volte a crescer, gerar empregos e principalmente distribuir renda", disse, como se falasse para o governo dos outros, não para o dele próprio.
Bem, a penúltima do vice foi classificar de "bobagem" um projeto caro ao todo-poderoso Palocci: o da mudança do ICMS (o imposto estadual), para que a sua cobrança deixe de incidir nos Estados de origem e passe a ser nos de destino. O que, claro, tira renda de Estados produtores, como São Paulo e Minas. E a última dele foi dizer à Folha que "Palocci não sabe tudo" e que as reformas podem virar um "arremedo".
Ou tudo isso vem sendo combinado entre o presidente e o vice, ou Lula pode andar meio ressabiado. Antes, era só ele quem continuava no palanque desde a campanha do ano passado. Agora, a chapa está novamente completa: ele e o seu vice.


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