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ELIANE CANTANHÊDE
As últimas do Alencar
BRASÍLIA - O vice-presidente da República, José Alencar, é um mineirinho de cara doce, bom de palanque,
contador de história e esperto que só
ele. Lula adora seu vice, que é do PL
e, garoto pobre, de poucos estudos, virou empresário de grande porte.
É por isso que, a cada dia que passa,
aumenta a curiosidade. Por que
Alencar só abre a boca para criticar
ou duvidar de políticas em discussão
no governo? Vira e mexe, ele esquece
que é vice-presidente, amigo de Lula
e filiado ao aliado PL e sai com quatro pedras contra a política de juros
estratosféricos herdada do governo
tucano e mantida a ferro e fogo pelo
petista. É quando o vice volta a ser
apenas empresário -ou candidato.
Numa reunião na CNI (Confederação Nacional da Indústria e, neste caso, típica toca dos leões), disse que as
taxas de juros são "despropositadas"
e que o Brasil está "encabrestado". A
platéia delirou. E o que Lula achou?
Não se sabe ao certo.
Na contramão de Lula, da área
econômica -Palocci inclusive-, do
FMI, do Banco Mundial e do mercado, Alencar também já andou mostrando o que a coisa não está boa: "O
Brasil não está tão bem assim. Temos
que fazer alguma coisa para ajustar
a economia brasileira para que ela
volte a crescer, gerar empregos e principalmente distribuir renda", disse,
como se falasse para o governo dos
outros, não para o dele próprio.
Bem, a penúltima do vice foi classificar de "bobagem" um projeto caro
ao todo-poderoso Palocci: o da mudança do ICMS (o imposto estadual),
para que a sua cobrança deixe de incidir nos Estados de origem e passe a
ser nos de destino. O que, claro, tira
renda de Estados produtores, como
São Paulo e Minas. E a última dele
foi dizer à Folha que "Palocci não sabe tudo" e que as reformas podem virar um "arremedo".
Ou tudo isso vem sendo combinado
entre o presidente e o vice, ou Lula
pode andar meio ressabiado. Antes,
era só ele quem continuava no palanque desde a campanha do ano passado. Agora, a chapa está novamente
completa: ele e o seu vice.
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